segunda-feira, 20 de abril de 2020

Nota de repúdio às notas de repúdio



Venho por meio desta nota de repúdio emitir uma nota de repúdio às notas de repúdio.

Com todos os dedos que temos de ter em relação às notas de repúdio, já que seria impensável uma nota de repúdio conter palavras contundentes, exigências severas. Com t-o-d-a a c-a-l-m-a necessária, t-o-d-o-s os c-u-i-d-a-d-o-s para que não tomem esta nota de repúdio como, digamos, um repúdio, um repúdio-raiz, uma repulsa (desculpem-nos se uma palavra como esta soar demasiado ousada), uma reviravolta em relação ao estado de coisas imediatamente anterior.

Certamente em crises de outrora — regimes bastante duros que houve na Alemanha e na Itália, por exemplo, ou uma certa ação desproporcional dos Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki — tivemos antepassados de notas de repúdio similares a esta nota de repúdio, mas de uma forma evolutiva, para que as notas de repúdios fossem progressivamente sendo buriladas, descascadas de formatos suficientemente expressivos que pudessem caracterizar algum risco real de ruptura.

Dizem que o presidente do Brasil — dizem — teria dito coisas muito feias em relação ao regime que adotamos há algumas décadas, em um contexto aparente de uma grave crise no setor de saúde. Data venia, não seria o caso, portanto, de as notas de repúdio neste caso levarem outro nome que não notas de repúdio, às vezes com "indignação veemente", para que não sejam confundidas com as nossas cuidadosas notas de repúdio? (Estamos praticamente a sugerir a criação de outro formato literário!)

É o momento de se repensar essas notas! Fica aqui o nosso veemente protesto! 

Senão, onde esse mundo vai parar?

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