sexta-feira, 24 de abril de 2020

A insônia de Sérgio Moro


João Ximenes Braga

Madrugada. O quarto está escuro. A conversa se passa na cama. Ambos estão deitados, ela de negligê, ele de cueca samba-canção e camiseta do Super-Homem. São iluminados apenas por seus tablets, dos quais não tiram o olho.

- Eu não vou conseguir dormir mesmo.

- Calma, Rosange, tô só esperando a confirmação no Diario Oficial. Mas já conversei com a Miriam, com o Diogo, todos acham que é melhor eu me livrar da gosminha logo. O governo do Messias já acabou, agora é esperar ele sangrar na cadeira pra voltar triunfante em 2022.

- Mas essa não era a estratégia do José Dirceu?

- Bem, temos que admitir que ele e o Nine entendem duas ou três coisas sobre isso.

- E os amigos do Department of Justice?

- Devem estar muito ocupados. Não me dão retorno há um tempão.

- Então vamos fazer isso, mozão. Fica tranquilo que eu cuido das contas da casa. Qualquer coisa peço um resgate pro Zuccoloto.

- É que... Às vezes bate uma insegurança, sabe? Sempre quis a segurança do serviço público, o auxílio-moradia... Não será mais seguro tentar a prefeitura de Maringá?

- Nem pense numa coisa dessas!

- É que... Vai que em 2022 a galera me dá uma bola nas costas e fica com o Luciano?

- Mozão, lembra dos shorts que a Angélica usava na Manchete. Ela não pode ser primeira-dama. Tá pra mim como a Marilyn tava pra Jackie. Uma questão de classe.

Sérgio Fernando tecla em seu tablet e reage forte.

- Atualizaram o Diário Oficial! O filho da puta do Messias passou por cima do Braga Netto e mandou exonerar o Valeixo! Que porra de tutela é essa? Já não se fazem mais militares como antigamente.

- Môzão, agora que você já sabe o que fazer, é minha vez de tomar uma decisão difícil.

- Sobre?

- O instagram. Preciso postar alguma coisa pra mostrar que não estamos abalados. Pensei num arranjo de flores bem lindo e um poema do Vinicius.

Rosângela estende seu tablet para Sérgio Fernando, que lê.

- Não entendi nada. Que que esses dedos da névoa têm a ver com eu pedir demissão?

- Mozão, é um poema, não é feito pra entender. É só pra mostrar que a gente é superior ao Messias. Que a gente é culto. Entendeu?

- Tá, publica. Qualquer coisa pra me limpar daquela gosminha.

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