Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que era originalmente uma comédia, mas que se tornou um documentário.
“Um filme que era originalmente uma comédia, mas que se tornou um documentário”, sentenciou a crítica especializada. O filme foi lançado em 2006, sem alarde ou cerimônia, em um punhado de redes de cinemas. Jamais um trailer promocional sobre o filme foi exibido anteriormente no cinema ou nos canais habituais de divulgação na Internet, como o IMDB.
No Brasil, foi lançado diretamente em DVD, sem qualquer esquema promocional.
Praticamente o estúdio 20th Century Fox descartou a produção por não saber como vendê-lo ou defini-lo: é uma distopia sci-fi? Uma comédia de sátira social? O problema é que o argumento do filme se concentrava numa sociedade estúpida, muito mais próxima de se realizar do que poderíamos imaginar. Uma sátira “hipo-utópica”, isto é, uma projeção hiperbólica no futuro de eventos que já estão acontecendo no presente - sobre esse conceito clique aqui.
Estamos falando do filme Idiocracia (Idiocracy, 2006), do diretor e roteirista Mike Judge – uma narrativa tão premonitória que, catorze anos depois, parece até um documentário.
Depois de catorze anos do “não-lançamento” de Idiocracia o que vemos? Comediantes ou estrelas de reality shows de TV eleitos presidentes como na Ucrânia e EUA (ou o governador eleito João “O Aprendiz” Doria Jr, no Brasil; ou também o apresentador Luciano Huck sendo cogitado a candidato à presidência em 2022); apresentadores do canal Fox News defendendo racistas como patriotas; uma série reality de sucesso chamada Os Kardashians na qual uma família nada faz de relevante além de mostrar cirurgias plásticas, quem ficou gordo ou magro ou quem casou ou se separou; ou ainda a maior rede de comunicação da história humana, a Internet, que deu direito à palavra aos idiotas de aldeia que outrora tinham vergonha de si mesmos.
Talvez exatamente por isso a 20th Century Fox se viu embaraçada com o resultado final que Mike Judge apresentou para os executivos do estúdio: o filme era muito profético, quase um documentário sobre um futuro próximo. Futuro que certamente os executivos da indústria do entretenimento idealizavam.
Idiocracia começa descrevendo como o processo da evolução darwiniana caminhou para um sentido oposto na História. Até um certo ponto, a seleção natural sempre favoreceu os mais inteligentes e rápidos que se reproduziam em maior número que os demais. Um processo que favoreceu os traços mais nobres da humanidade, ao ponto que todo o gênero da ficção científica antevia sociedades civilizadas e inteligentes.
Mas o que aconteceu para a História premiar o embrutecimento e a involução? Como chegamos ao ano 2501 no qual a inteligência se extinguiu e a mentalidade limítrofe tornou-se o modelo desejável de existência?
Será que a Teoria da Evolução de Darwin estava errada? Ou a evolução tecnológica reduziu as expectativas dos padrões de inteligência a um ponto em que a burrice se tornou uma virtude?
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