A fraca matéria de capa da Ilustrada (da Folha) de hoje mostra bem a que serve a tese da "polarização".
Uma pesquisa "sobre o mercado editorial brasileiro" (mas na verdade sobre a Amazon), com Ortellado e tudo, detectou que há um "fla-flu ideológico". Quem compra livros de direita não compra livros de esquerda e vice-versa.
A lista dos mais vendidos de esquerda começa, vejam só, com Levitsky e Ziblatt e seu Como as democracias morrem - uma obra que convencionalmente seria incluída na ciência política mais conservadora, com uma visão limitada e elitista da própria democracia moribunda. Depois aparecem de Umberto Eco a Silvia Federici e o Manifesto comunista, incluindo um compêndio de clássicos da sociologia com textos de Marx, sim, mas também Weber, Durkheim e Simmel.
No outro lado, imperam Olavão e Mises - difícil dizer qual dos dois é o mais charlatão.
Fica evidente que aquilo que é chamado de "polarização" é, na verdade, o desgarramento e insulamento de uma parcela extremada e ensandecida da direita. Porque o que é apressadamente chamado de "esquerda" não é esquerda - é um conjunto plural e muito contraditório de posições que têm em comum, apenas, o fato de passar por um crivo mínimo de bom senso e civilidade.
A tese do fla-flu (eu me recuso a escrever "flá-flu", como faz a Folha, curvando-se a sabe-se lá que fantasias dos acadêmicos da ABL) serve apenas para que o isentão se recuse a assumir sua responsabilidade no enfrentamento à barbárie, ficando na sua cômoda "imparcialidade".
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