terça-feira, 3 de setembro de 2019

Roda Morta é retrato da mídia brasileira


O Conversa Afiada publica artigo sereno (sempre!) do colUnista exclusivo Joaquim Xavier: 

Conversa Afiada
Programa com Greenwald expõe a falência do “jornalismo” nacional 
Inacreditável. Colocado no centro da arena do Roda Viva da TV Cultura, o jornalista Glenn Greenwald foi tratado como um criminoso. Uma inversão de papéis de aterrorizar.

Os entrevistadores pareciam estar num exercício de vingança. Afinal, Greenwald, ganhador do prêmio mais importante da imprensa mundial, tem mostrado com as reportagens do Intercept não apenas um esquema delinquente. Tem comprovado também a falência do jornalismo local.

Enquanto a mídia tupiniquim rastejava diante de Sérgio Criminoso Moro e seus asseclas, Greenwald e equipe empenharam seu tempo em investigar as entranhas da Lava Jato. Trabalho custoso, demorado, minucioso, imparcial. Uma aula de jornalismo que irrita inquisidores mascarados de profissionais da informação.

À bancada não interessou em nenhum momento discutir o conteúdo das conversas da organização criminosa (como diz Gilmar Mendes) travestida de “força-tarefa”. Tampouco extrair as lições de como se faz reportagem digna deste nome. O programa foi um coral de uma nota só: tentar “provar” que Greenwald era um transgressor.

O absurdo não conheceu limites. Todos insistiram que Greenwald revelasse suas fontes. Bolsonaro, Moro e a PF não fariam melhor. Suprema vergonha: foi preciso que o fundador do The Intercept, de origem americana, lembrasse que a Constituição brasileira garante o sigilo no exercício do jornalismo.

No desespero, o pelotão de fuzilamento da verdade cobrou dele pretensas relações com produtoras de vídeos eróticos. Com elegância e educação, Greenwald esclareceu o assunto em definitivo. Agora, o que tem a ver o tema com as revelações bombásticas sobre os crimes da Lava Jato? Nada. O curioso é que Alexandre Frota, habitué de filmes pornográficos e bolsonarista de primeira hora até pouco tempo, foi tratado como estadista pelo mesmo programa.

A indigência do jornalismo brasileiro não vem de agora, mas se acentuou selvagemente no governo Bolsonaro. Extremista de direita assumido, o capitão aparece nas páginas e telas da mídia oficial como “conservador”, no máximo “de direita”.

O grupo Globo, por exemplo, trava uma batalha perdida contra os fatos ao repetir que as conversas “não trazem nada de mais”. A Folha de S. Paulo chegou a proibir, em memorando interno, seus funcionários de situar Bolsonaro na extrema-direita. Pouco importa que o militar expulso do Exército seja contra os pobres, defensor da tortura, da “eliminação de pelo menos 30 mil”, (...) liberticida e por aí vai -- um (...) patológico de quem até gente como a ultradireitista Marie Le Pen achou conveniente se afastar.

O Roda Morta, assim como o império das cinco famílias, não tem conserto. Parafraseando Raul Seixas, viva a mídia alternativa.

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