Bolsonaro é inimigo das mulheres
Eleonora de Lucena
O Brasil nunca teve um governo tão destrutivo. Agindo cotidianamente contra os interesses da nação, Jair Bolsonaro ataca as instituições, os direitos conquistados, a soberania, a democracia, o povo. Seus objetivos são três: implantar um regime autoritário, aniquilar o Estado e transformar o país em vassalo dos EUA. Para isso, arrocha os mais pobres, demole os sistemas de saúde, educação e Previdência, precariza o emprego e encurrala as empresas. Engatando uma marcha a ré histórica, desidrata a ciência, desmancha a cultura, destroça o ambiente, golpeia os povos indígenas, prega o ódio e o obscurantismo.
O Brasil nunca teve um governo tão inimigo das mulheres. Bolsonaro ofende, humilha, desrespeita. Em aparições repugnantes, abre um esgoto verborrágico antipopular, machista, homofóbico, misógino, das cavernas. O ataque a Patrícia Campos Mello é contra todas nós.
Bolsonaro finge toscamente que é só o tio do pavê, mas, de fato, suas ações esmagam e esfolam. Principalmente, ao afagar os opressores, ele dá exemplo e estimula a violência. Não por acaso, cresce o feminicídio no país. Seu projeto de regressão civilizatória atinge em cheio as mulheres. São elas que mais estão perdendo empregos, salários. São elas que mais sentem o desmonte do SUS, o esfacelamento das escolas, a fila do INSS, o fim dos projetos de habitação popular.
São elas que se angustiam com a violência desenfreada de hordas milicianas. O assassinato de Marielle Franco vai completar dois anos. Quem mandou matar Marielle? O crime escancarou o avanço da bandidagem miliciana que acabou chegando aos píncaros. O que Bolsonaro quer é calar e paralisar as mulheres. Ele sabe que somos uma barreira contra sua sanha destrutiva. Daí sua estratégia de ataque incessante. Nisso, ele não é original.
“No projeto da direita, que junta Bolsonaro com Orban, a mudança da condição da mulher é um dos objetivos fundamentais”, diz a italiana Susanna Camusso em entrevista ao TUTAMÉIA. Líder sindical e feminista histórica, ela afirma que, para a direita, mandar as mulheres de volta para casa é condição para sua vitória. Não por acaso, se multiplicam ações financiadas por magnatas do atraso contra leis que garantem o direito ao aborto.
(Aqui, a legislação sobre a questão, ignorando a saúde pública, é cruel, medieval. Especialmente para as mais pobres, significa terror e morte, como aponta a valente antropóloga Debora Diniz.)
Para Camusso, o movimento feminino já entendeu o plano ultraconservador e assume papel mais relevante nas lutas sociais. Por isso, a extrema direita agora quer domesticar as mulheres. Não é coincidência a louvação cafajeste à mulher “bela, recatada e do lar”. É política. A mulher que luta precisa ser demonizada e freada.
Essa retórica é cuspida nas redes num momento em que a resistência ao neofascismo instalado no Planalto ainda é frágil. A necessária frente política não decola, e boa parte da elite, engambelada pelas promessas bisonhas de Paulo Guedes, faz de conta que Bolsonaro é manejável e que as coisas vão melhorar.
Não é verdade. Está aí o resultado do PIB: fracasso produzido pelos arautos do financismo. Está aí a ameaça explícita de fechamento, com o ato contra o Legislativo e o Judiciário. Bolsonaro não esconde seu desejo de trucidar o Estado de Direito, eliminar adversários e emparedar as liberdades.
Terá que enfrentar as mulheres. No passado, o Movimento Feminino pela Anistia e o Movimento contra a Carestia mostraram o papel decisivo das mulheres na luta contra a opressão. Hoje, nas ruas, temos um novo capítulo.
Eleonora de Lucena
Jornalista, ex-editora-executiva da Folha (2000-2010) e criadora do serviço jornalístico TUTAMÉIA
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