Sylvia Moretzsohn
Nós não vamos usar as mesmas armas que eles. Nós não vamos nos rebaixar ao nível deles. Nós somos melhores que eles.
A esquerda que adota a ética da convicção e almeja a pureza dos santos, incompatível com a política, sempre comete os mesmos erros e se considera, com uma arrogância mal disfarçada em altruísmo, moralmente superior a "essa gente".
O resultado é que não consegue atingi-la, porque não consegue perceber quais são os pontos sensíveis de pessoas que, mesmo no limite das possibilidades de sobrevivência, preferem morrer a ter um filho gay e são crentes no projeto de desvirtuamento moral das nossas criancinhas nas escolas.
Essa esquerda acha que vai conquistar essa gente com argumentos. Acha que essa gente vai despertar quando a situação econômica piorar, como se já não estivesse abaixo da crítica, como se essa gente não estivesse convencida de que, pelo próprio esforço, e com a indispensável ajuda divina, fosse possível conquistar a autonomia pilotando diariamente uma bicicleta de entrega de comida.
Porque, claro, essa esquerda considera que a ideologia é "reflexo" das condições econômicas, é expressão superestrutural da estrutura. Dialética zero.
Em 89, o PT não se preparou para a guerra que seria a campanha. Na reta final do segundo turno, não soube reagir à baixaria protagonizada por Collor. Talvez tivesse perdido de qualquer jeito, mas claramente não estava à altura daquela situação.
Por quê? Ah, porque não vamos nos rebaixar, somos melhores que eles, não vamos usar as mesmas armas.
Somos eternamente os campeões morais. Preferimos não fazer política, preferimos oferecer não só a outra face mas o corpo inteiro em sacrifício. Estamos sendo dizimados, mas que importância tem isso, se é nosso o reino dos céus?
P.S.: Ah, desculpe, quem sabe devemos "acumular forças" para as próximas eleições?
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