Bernardo Mello Franco
Rezende, Malafaia, Macedo e Bolsonaro ganham a vida com a oratória. Nos últimos dias, eles esnobaram o coronavírus e desinformaram fiéis e eleitores
Iris Rezende é prefeito de Goiânia. Está na política desde 1958, quando João Gilberto inventou a bossa nova. Mais de seis décadas depois, ameaça disputar outro mandato municipal. Na quinta passada, ele disse que sua cidade “não será atingida” pelo coronavírus porque é “protegida por Deus”. “Estou absolutamente tranquilo de que têm feito um barulho indevido”, desdenhou.
Silas Malafaia é pastor do ministério Vitória em Cristo. Fez fama no púlpito, mas adora um palanque. Era unha e carne com Eduardo Cunha, hoje recolhido em Bangu. Agora grudou no capitão domiciliado no Alvorada. No sábado, ele informou que manterá os templos abertos, na contramão dos apelos de médicos e cientistas. Contra a propagação da doença, sugeriu orações: “Que esse vírus seja destruído da nossa nação pelo poder do nome de Jesus”.
Edir Macedo é dono da Igreja Universal e de um império que inclui banco, seguradora, partido político e emissora de TV. Num culto recente, repreendeu os fiéis e disse que o Espírito Santo “não quer palmas”. “Ele quer que você nos ajude a pagar nossas contas e bata a mão no bolso”, esclareceu. No domingo, o bispo pediu aos seguidores que “não se preocupem com o coronavírus”. Disse que a epidemia é “mais uma tática de Satanás” para assustar as pessoas. “Qualquer ventinho que tiver é uma pneumonia para elas”, gracejou.
Jair Bolsonaro é paraquedista e presidente da República. No domingo, ignorou ordens médicas de isolamento e participou de uma manifestação com extremistas que pediam o fechamento do Congresso. Apertou mãos e manuseou dezenas de celulares de cidadãos vestidos de verde e amarelo. Ontem ele disse que há “histeria” com o coronavírus. Ao menos 13 pessoas que integraram sua comitiva à Flórida já sabem que estão infectadas.
Iris, Silas, Edir e Jair ganham a vida com a oratória. Prometem cura, salvação e prosperidade em troca do voto na urna e do dízimo na sacolinha. Com idades entre 61 e 86 anos, todos fazem parte do grupo mais exposto à pandemia. Enquanto a massa de fiéis e eleitores só conta com os leitos do SUS, o quarteto pode se tratar em hospitais particulares.
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