Discutir a nomeação de Fulano ou Beltrano para um subministério da Cultura equivale, mais ou menos, a questionar alguma nomeação de Hitler para algum cargo burocrata no Turismo durante a Alemanha nazista.
O que importa — o que deveria importar — é a existência de campos de concentração, é a política da morte, é o genocídio em curso.
Se a cada vez que pronunciassem o nome Mário Frias fosse pronunciada também essa palavra, "genocídio", estaríamos mais próximos de fazer uma crítica política séria.
Mas não: optamos por um curioso esquecimento da história enquanto a própria história acontece.
São 50 mil mortos, serão pelo menos 200 mil ou 300 mil. (Quinhentos mil, talvez?)
Os principais atingidos são os pobres, os idosos e aqueles que iriam se aposentar, são os negros, são os indígenas. São os vulneráveis.
É opção política, é genocídio.
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Tenho dificuldade de entender a comoção em torno da bundinha do galã. Por ter dificuldade de entender a desproporcionalidade dos assuntos. De aceitar o imenso pântano da superficialidade que também permitiu a ascensão dos fascistas.
"Ah, mas podemos discutir tudo, uma coisa não exclui a outra".
Sempre argumentam isso como se estivéssemos discutindo a contento os temas fundamentais. E não estivéssemos proclamando uma overdose de coisinhas, de nadinhas, de irrelevâncias.
(É a desproporção, distraídos. É a desproporção.)
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Não é absolutamente razoável imaginar que qualquer cidadão numa subdeturpação do Ministério da Cultura possa ser algo significativo nesta Para-República das Arminhas.
A para-república (posto que se lixa para a coisa pública), como diz o nome, é das arminhas, das pistolas, do extermínio, é da Taurus e dos tanques, é da morte dos indígenas isolados, a da invasão de hospitais e do aumento da desigualdade.
Só que a gente nem usa a palavra genocídio, porque é feio, não está em tal definição de genocídio (o pior é que está), e assim a gente vai naturalizando o massacre na mesma medida em que a gente individualiza a política do quinto escalão,
como se o sub do sub do sub pudesse competir em obscuridade com o chefe dos genocidas, com Bolsonaro, com a ausência de ministro da Saúde e com aqueles cúmplices que nos esquecemos tanto: Augusto Aras, por exemplo. O exterminador-geral da República.
Aguardo uma capa com Aras e Toffoli, uma capa corajosíssima: "Todos os homens do presidente".
Com Maia, com Alcolumbre, com o resto do Supremo, com tudo. Com todas suas gravatas obscenas.
O resto é chá das cinco e silêncio.
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