Carlos D'Incao
A VERDADEIRA EPIDEMIA
Quando eu era mais jovem nunca imaginei que depois do ano 2000 teríamos problemas como surtos e epidemias de doenças que já haviam ou estavam sendo erradicadas, como a caxumba, a febre amarela, a poliomielite, a tuberculose, etc....
Hoje, com enorme pesar chego em 2019 diante de uma provável epidemia de Sarampo no Brasil, tendo o Estado de São Paulo - supostamente o mais desenvolvido Estado do país - como seu epicentro...
De onde vem essa epidemia?
A resposta faz lembrar o enredo da clássica obra escrita por Gabriel Garcia Marques, “Crônica de uma morte anunciada”.
Essa epidemia de Sarampo em particular vem das teorias da conspiração que, a rigor, há tempos existem, mas hoje ganharam enorme poder de disseminação com as redes sociais.
A ideia de que as vacinas causam males e sequelas de qualquer natureza naqueles que são por elas imunizados constitui prova de que nossa sociedade ainda padece de um mínimo de alfabetização científica.
E... infelizmente é isso que hoje somos: uma sociedade quase que totalmente analfabeta em termos científicos. As consequências desse fato são nefastas pois esse analfabetismo traz embutido outros aspectos sórdidos, como a pobreza na capacidade de análise crítica, uma enorme dificuldade de distinguir fatos reais de fakenews e uma tendência em aceitar notícias falaciosas e alarmistas.
O grande astrofísico Carl Sagan já alertava há 50 anos sobre as consequências de uma sociedade que flertava com a pseudo-ciência. Chama a atenção o fato de que ele já apontava que, por trás desse analfabetismo, habitavam interesses políticos com claras ambições de manipular e dominar as massas.
A ampla divulgação da pseudo-ciência veio acompanhada de uma população pseudo-educada e também pseudo-politizada. Não temos mais a antiga contradição entre aqueles que eram cultos e aqueles que eram incultos. Os que eram “estudados” e os que eram “ignorantes”.
Hoje temos aqueles que preservam a cultura e o pensamento crítico em oposição àqueles que julgam fazer o mesmo sem saber que são incultos e desprovidos de qualquer linha de pensamento crítico. Afinal de contas, hoje temos formalmente uma sociedade onde quase todos possuem nível universitário ou nível médio de escolaridade.
Vivemos em uma era onde a ignorância está disfarçada com desinformação obtida por vias auto-proclamadas de “alternativas”, com diplomas de instituições educacionais que nada valem pois nada educam e que convive com a ilusão de que o Google é uma fonte que concede autoridade para qualquer um debater sobre qualquer tema.
Estamos na era da Hiper-Ignorância, uma espécie de hiperespaço do saber. Mas, no fim, o resultado disso tudo sempre é o triunfo da verdade, doa a quem doer.
Por mais que os adeptos da Hiper-Ignorância julguem ter algo a colaborar com debates e temas já suficientemente finalizados, suas ações e desinformações deságuam na forma de ignorância pura e destilada na realidade, como se segue:
Contabilizamos a volta do Sarampo de forma epidêmica, a eleição de políticos idiotas e ineptos, a destruição do meio ambiente em níveis nunca antes aferidos, o caos social, o desrespeito às leis e às instituições democráticas, a ameaça das soberanias nacionais, entre outros muitos males que apenas estamos começando a colher nacionalmente e internacionalmente.
A humanidade (e em especial o ocidente) pagará um alto preço por suas próprias opções equivocadas e terá que aprender pela dor a distinção entre o verdadeiro saber e as novas facetas da ignorância.
Não precisávamos sofrer tanto... mas sofreremos...Até aprender... ou até acabar o mandato de nossa espécie nesse raro e generoso planeta, que nos deu tantos recursos que já poderíamos muito bem vivermos todos em paz e harmonia.
Bastaria apenas combatermos e dizimarmos a verdadeira epidemia de nosso mundo: a ignorância e aqueles que dela tiram proveito.
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