Nilson Lage
Amanhã será outro dia -- e pode ser bem diferente.
Com o governo federal fantasiando teorias da conspiração e sonhando com benefícios de sua aliança subalterna com o império, o andar de baixo faz o que tem que ser feito.
Quem isola bairros e cidades, fecha o comércio, impede aglomerações, questiona passageiros chegados em aeroportos são autoridades locais -- delegados, juízes, prefeitos, governadores --orientados pelos médicos que, com base em estudos epidemiológicos, temem a rápida superação da capacidade de atendimento dos hospitais a doentes com síndromes de insuficiência respiratória, etapa final da infecção por coronavírus.
Parte significativa da população -- formadores de opinião, líderes de comunidades -- colabora e a imagem que se tem é de uma sociedade autogerida e com objetivo definido.
Brasília gera anedotas e atrapalha.
Mas isso não pode durar.
O caos econômico é previsível.
Atinge primeiro os trabalhadores desprovidos de direitos, mas logo levará ao colapso lojas fechadas, escritórios sem clientes, fábricas desertas e igrejas comerciais sem ter de quem tomar os dízimos.
Não dá para esperar meses e meses, até se constatar que o pico da curva epidêmica foi atingido. Antes disso, a bolha estoura: as pessoas precisam trabalhar e conviver, as ruas se povoar, a produção ser retomada. Pode ser que a opinião pública reverta, mas a consciência da catástrofe será preservada.
E então?
Não temos governo central, mas uma comunidade de psicopatas, lobistas, idiotas e politiqueiros cercados de generais sem comando.
O alinhamento com os Estados Unidos resultou em fracasso econômico e esgarçamento evidente da sensível malha social. O presidente da República é um fanático irresponsável. A gestão da economia está entregue a um usurário que, para todos os casos, aposta em postergar a cobrança de dívidas, distribuir dinheiro público a grandes corporações e dar à enorme população excluída esmolas e vouchers (adora essa palavra): o tíquete do almoço, a gorjeta de duzentos reais ... nada que faça sentido na economia real, que não vive de expedientes.
Caminhamos para uma conjuntura revolucionária.
As forças armadas, porque não tem quem mande ou porque não querem se meter nesse embrulho, guardaram a mão amiga nos quartéis. Por mais que promovam a imagem de unidade, estão, como sempre, divididas. E confusas.
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