sexta-feira, 6 de março de 2020

PIB Privada, Governo Cloaca.


Alceu Castilho

A desonra intelectual da equipe econômica ao apresentar a farsa do "PIB privado" inspira a necessidade de desconstrução imediata. Sem que, com isso, ajudemos a promover o conceito, a farsa.

Nesse sentido, vejo que dezenas de twitteiros já estão chamando a ideia de Guedes e companhia como PIB Privada.

E é isso. Mais sintético, impossível.

Sei que a escatologia é domínio dos Olavos e Bolsonaros, mas a capacidade dessa gente de emplacar mentiras não pode ser subestimada.

Falar em PIB Privada significa levar ao ridículo a manipulação do governo em apenas duas palavras. Foram publicitários que escreveram essa peça do "PIB público e privado". Mas parece que não perceberam a força do trocadilho.

É preciso valorizar o terreno do público, e não somente no caso do PIB.

PIB Privada é aquele onde um governo que privatiza tudo e retira direitos dos trabalhadores quer nos fazer crer que estamos indo para o caminho certo.

Quando está a acontecer o contrário. O botão que está sendo apertado — por esses comediantes ruins que ocuparam Brasília — nos leva aos subterrâneos da economia mundial.

É o PIB Privada. Produzimos commodities com veneno e destruição de biomas. Com uma mineração predadora que, literalmente, enterra outras formas de lidar com os recursos naturais. Enquanto as trapalhadas em Brasília moem as reservas cambiais e afastam os investimentos que eles tanto desejam.

Esse governo nos envergonha mundialmente. Temos um presidente primata que vive à margem do interesse público, dublê de palhaço medíocre. Temos uma equipe econômica delirante. E temos os inglórios representantes do PIB nacional a apoiar essa destruição.

É o fascismo na época de sua reprodutibilidade escatológica. Podemos imaginar Alvim com seu sorrisinho cínico a anunciar o PIB Privada. Afinal, é essa a cultura proclamada.

Na terceira parte de "Sobre Heróis e Tumbas", Ernesto Sabato descreve uma viagem aos subterrâneos de Buenos Aires. Era o delírio de um psicopata, em meio aos esgotos portenhos. Em determinado momento, indignado com elogios a velhinhos apenas porque eram velhinhos, como se esses homens-de-bem não tivessem sido adultos deploráveis, o protagonista faz um desabafo contra todos os demais canalhas. Particularmente sincero porque ele, Fernando, era um canalha assumido. "Canalhas!", ele exclama, enquanto descreve o universo asfixiante das cloacas. "Canalhas, canalhas!"

País escravocrata, capitalismo selvagem. PIB Privada, Governo Cloaca.

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