Admiro muito as pessoas que ficam dizendo pra gente sair da bolha. Eu não saio, mas às vezes dão uma furadinha nela. O Rafael Almarão fez um post lamentando a perda de direitos e um rapaz comentou que estava bom assim, era melhor perder direitos e ter mais oportunidade de trabalho. Apresentou-se como motoboy de aplicativo e disse que, assim, ganhava mais que num emprego pela CLT. O autor respondeu que ele não tinha amparo algum e o rapaz retrucou que pagava o MEI, portanto tinha direito a um salário mínimo se precisasse parar de trabalhar.
Oi?
Eu raramente puxo conversa com desconhecidos, aqui ou na vida real, mas achei por bem lembrá-lo que o MEI foi uma iniciativa do governo do Partido dos Tra-ba-lha-do-res justamente para tentar incorporar os informais à Economia formal e estender-lhes um mínimo de direitos. Uma tentativa tímida pra caralho, mas apontei a contradição entre ser contra direitos trabalhistas e adotar o MEI já que o MEI, na essência, é um formato de direito trabalhista.
Ele me mandou estudar antes de debater com ele.
Serão mais seis meses fechado na bolha, gente. Que lá fora é Babel, é pós-verdade, é modernidade líquida e eu passei da idade de ficar chupando mamadeira de piroca.
Biografia
João Ximenes Braga
Nasceu em 22/06/1970, no Rio de Janeiro. Jornalista e escritor, iniciou como repórter do Caderno D do jornal O Dia, em 1991. Em 1993 foi trabalhar no Segundo Caderno d`O Globo, passando a sub-editor do caderno Ela. Em 1997 vai para Nova Iorque na condição de correspondente, escrevendo para todas as editorias e fazendo crônicas sobre a cidade para o caderno Ela. Retorna ao Brasil em 2000 e passa a editor de cultura do site Globo News.com. Em fins de 2002 tira um ano sabático para se dedicar a ficção, enquanto mantém a seção de crônicas inaugurada em 1997 e mantém atualizado seu “J.X blog”. Em 2003 lança o romance Porra, pela Editora Objetiva. Uma crítica mostrando a cara da classe média brasileira, a falta de valores, de sentimentos, de noção social. Em 2005 lançou Juízo, uma profecia para 2011, quando o Brasil é governado por um evangélico do mal.
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