quinta-feira, 5 de março de 2020

Saia de sua bolha!

João Ximenes Braga

Admiro muito as pessoas que ficam dizendo pra gente sair da bolha. Eu não saio, mas às vezes dão uma furadinha nela. O Rafael Almarão fez um post lamentando a perda de direitos e um rapaz comentou que estava bom assim, era melhor perder direitos e ter mais oportunidade de trabalho. Apresentou-se como motoboy de aplicativo e disse que, assim, ganhava mais que num emprego pela CLT. O autor respondeu que ele não tinha amparo algum e o rapaz retrucou que pagava o MEI, portanto tinha direito a um salário mínimo se precisasse parar de trabalhar.

Oi?

Eu raramente puxo conversa com desconhecidos, aqui ou na vida real, mas achei por bem lembrá-lo que o MEI foi uma iniciativa do governo do Partido dos Tra-ba-lha-do-res justamente para tentar incorporar os informais à Economia formal e estender-lhes um mínimo de direitos. Uma tentativa tímida pra caralho, mas apontei a contradição entre ser contra direitos trabalhistas e adotar o MEI já que o MEI, na essência, é um formato de direito trabalhista.

Ele me mandou estudar antes de debater com ele.

Serão mais seis meses fechado na bolha, gente. Que lá fora é Babel, é pós-verdade, é modernidade líquida e eu passei da idade de ficar chupando mamadeira de piroca.


Biografia

João Ximenes Braga

Nasceu em 22/06/1970, no Rio de Janeiro. Jornalista e escritor, iniciou como repórter do Caderno D do jornal O Dia, em 1991. Em 1993 foi trabalhar no Segundo Caderno d`O Globo, passando a sub-editor do caderno Ela. Em 1997 vai para Nova Iorque na condição de correspondente, escrevendo para todas as editorias e fazendo crônicas sobre a cidade para o caderno Ela. Retorna ao Brasil em 2000 e passa a editor de cultura do site Globo News.com. Em fins de 2002 tira um ano sabático para se dedicar a ficção, enquanto mantém a seção de crônicas inaugurada em 1997 e mantém atualizado seu “J.X blog”. Em 2003 lança o romance Porra, pela Editora Objetiva. Uma crítica mostrando a cara da classe média brasileira, a falta de valores, de sentimentos, de noção social. Em 2005 lançou Juízo, uma profecia para 2011, quando o Brasil é governado por um evangélico do mal.    

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