Luis Felipe Miguel
O primeiro conteúdo que o algoritmo me apresentou, hoje de manhã, foi de um bolsonarista invadindo um hospital em Ceilândia - a área do DF mais atingida pela pandemia - e xingando uma médica. Aparentemente, ele estava transmitindo ao vivo a própria façanha. Usando uma máscara com a bandeira do Brasil, falando no tom de indignação agressiva que é próprio aos candidatos a "influenciadores" digitais da extrema-direita, exigia que o hospital da Ceilândia fosse "devolvido" ao povo e denunciava um complô para deixar leitos vazios, sob falso pretexto de Covid-19, para não atender às pessoas baleadas e esfaqueadas.
Em seguida, apareceu o depoimento de uma jovem médica, sobre seu plantão de 12 horas numa UTI lotada de pacientes do novo coronavírus. Três mortos num único plantão, o drama das famílias, algumas delas com outros parentes internados. E o desespero de uma profissional que se desdobra para fazer o seu trabalho, para salvar seus pacientes, e vê seu esforço boicotado por um negacionismo ao mesmo tempo estúpido e interessado.
Entre o terrorista digital de Ceilândia e a plantonista da UTI paulista há um abismo. O que dá vontade de chorar é pensar que vivemos numa sociedade que se esforça por criar mais pessoas como ele, não como ela.
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