Na Folha de hoje: "Mortes por Covid podem ser 140% maiores".
A reportagem mostra que um balanço do Ministério da Saúde, no dia 2 de maio, indicava que 9.420 mortes podiam ser acrescentadas às 6.724 oficialmente registradas até então.
São registros de óbitos pelo novo coronavírus, confirmados, que não entraram na contagem oficial (mais de 3 mil). E óbitos por síndrome respiratória sem causa definida que estão acima da média histórica do período (mais de 6 mil).
Se o padrão prossegue inalterado (não é necessariamente o caso, já que a testagem pode ter aumentado em alguns lugares) podemos estimar que as 29.341 mortes anunciadas ontem correspondem, na verdade, a mais de 70 mil.
O número é chocante. Mas pior ainda é pensar que os números do Ministério da Saúde, que deveriam orientar as ações de combate à pandemia, não são minimamente confiáveis.
Nunca é demais enfatizar a urgência de uma mudança de rumo no Brasil. Estamos caminhando a passo rápido para centenas de milhares de mortos.
A curva é aceleradamente ascendente, mas o que se vê, por todo lado, são anúncios de "flexibilização" do isolamento social (que já se mostrava insuficiente) e pressões crescentes pela reabertura total.
É como decidir voltar para um prédio em chamas porque temos saudade da nossa vida "normal" e cansamos de ajudar os bombeiros.
Essa mudança de rumo passa obrigatoriamente pela derrubada de Jair Bolsonaro. A crise política e a crise sanitária estão entrelaçadas.
Bolsonaro foi longe de mais no negacionismo para poder recuar. O apoio popular a ele se reduziu. Está cada vez mais dependente de um grupo ultra-radicalizado e agressivo. Não é à toa que símbolos neonazistas e supremacistas brancos têm se tornado presentes em todas as manifestações do bolsonarismo.
Recusar a racionalidade no combate ao novo coronavírus tornou-se um traço definidor desse grupo. Boicotar as ações necessárias para debelar a pandemia é, assim, algo que Bolsonaro deve à base que o sustenta. O bolsonarismo se tornou um culto da morte.
Montado a cavalo, ontem, em meio a seus apoiadores, Bolsonaro encarnava caracteristicamente duas dimensões de sua persona política: o boiadeiro que tange seu gado e o cavaleiro do apocalipse.
Ao mesmo tempo, a pandemia permite a Bolsonaro avançar na agenda destrutiva que lhe garante a simpatia de setores específicos - "passar a boiada", como disse Ricardo Salles na fatídica reunião ministerial.
Não é só no meio ambiente. Educação, patrimônio histórico, economia, em vários setores isso está sendo posto em curso.
Neonazis nas ruas, empresários reacionários nos gabinetes - e as ofertas ao Centrão para fechar a conta. Essa é a estratégia de sobrevivência de Bolsonaro. O vírus é parte dela.
Com as consequências fatais da pandemia se concentrando em grupos específicos (periferias, população negra, povos indígenas, os mais pobres e desvalidos em geral), o coronavírus toma, no Brasil, as feições de uma política genocida de Estado.
Deter Bolsonaro é imperativo e urgente.
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