sexta-feira, 24 de julho de 2020

Nosso lugar de fala é o necrotério


Rolezinho pelo noticiário do Hades 

João Ximenes Braga 

O ser asqueroso que ocupa a presidência não se limitou, ontem, a mais uma vez desnudar sua indigência mental e nos expor ao ridículo diante de uma ema. Mais tarde, em sua laive, voltou a fazer propaganda não apenas do falso remédio que nos foi imposto por Trump, não apenas do vírus, na medida em que estimulou as pessoas a se contagiarem, mas da própria morte em si, que ele voltou a banalizar insistindo na lembrança do óbvio: é inevitável. Não são apenas palavras vazias para seus seguidores fanáticos. O governo dele deixou de investir dois terços dos recursos que tinha para combater a pandemia. Se isso não comprova que estamos vivendo um genocídio, não sei o que falta.

Escabroso. Mas segundo o Instituto Paraná Pesquisas, metade da população aprova este governo. Os 30% que sempre mencionamos são os que respondem bom ou ótimo quando se dá opções como esta e regular, ruim e péssimo. Mas quando a pergunta é se aprova ou não o presidente, o índice vai pra 40 e tantos. E mais, ele hoje venceria qualquer cenário de segundo turno. Confesso minha estupidez: achava que, quando o neoliberalismo de Guedes empobrecesse o povo, sua popularidade despencaria. Não é o que está acontecendo. É a segunda pesquisa neste sentido esta semana.

Aí lembro daquele bordão das redes, "o brasileiro precisa ser estudado", e a primeira imagem que me vem em mente é essa aí.

Metade do Brasil decidiu morrer e matar. Não conscientemente, claro, mas essa pandemia deixou óbvio como nunca que o traço principal do caráter nacional é a pulsão de morte. A gente achava que era a pulsão de vida, sobretudo por causa de nossa música, mas não é, não. Não mais.

As razões pra isso estão na nossa História, claro: genocídio, sequestro, escravidão, tortura, estupro.

Mas não consigo pensar nisso sem lembrar que na História recente, durante os anos do PT, com todas suas falhas, o país parecia ter escolhido a vida, ao colocar o combate à fome em suas prioridades. Só que nossos jornalistas mais graúdos deram os braços a um projeto de ódio contra a vida executado por aquela turma de Curitiba que atende apenas aos interesses geopolíticos dos EUA.

E a morte venceu. Seremos estudados. Pelos outros, pois nosso lugar de fala é o necrotério.

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