terça-feira, 16 de abril de 2019

Jornalismo brasileiro fez assessoria de imprensa para os golpistas da Lava Jato destruírem o país


Há um bom debate a ser feito a respeito do jornalismo realizado no Brasil durante a Operação Lava Jato. Alguns colegas, com bons argumentos, afirmam que publicar documentos oficiais é tarefa do jornalista

Por esta perspectiva, delações, inquéritos e outros pedaços de investigação produzidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal seriam objetos legítimos para o jornalista expor à sociedade

Na minha visão, trata-se de uma perspectiva um tanto superficial. Sim, é tarefa do jornalista publicar documentos oficiais, mas não sem fazer uma análise minimamente crítica do teor do documento e do contexto em que ele foi produzido

Me parece que a maior parte da cobertura da Lava Jato se deu nessa base: "Surgiu, o documento? Publique-se". Nesta toada, em alguma medida as redações se tornaram assessorias de imprensa, ou joguetes, de procuradores e juízes. Só que esses burocratas tinham uma agenda política

A agenda política era destruir o sistema político brasileiro. A simbiose Lava Jato-Jornalismo funcionou por meses porque havia um inimigo em comum: o PT. Quando o PT sai de cena (num processo completamente ilegítimo, diga-se), as cartas ficam embaralhadas

Após o impeachment, o bloco anti-PT começou a sofrer fissuras. Começaram a surgir preocupações a respeito da agenda política de procuradores e juízes e dos métodos heterodoxos da Lava Jato, que incluíam fazer justiça fora do sistema judiciário

Fazer justiça fora do Judiciário era um projeto da Lava Jato e de Moro. Eles queriam o apoio popular. Sabiam que, só por dentro do Judiciário, não avançariam. O Power Point de Deltan Dallagnol é um exemplo disso. O áudio do Bessias é outro

A respeito do áudio, lembremos: Moro mandou a PF parar as gravações no meio do prazo que havia concedido (coisa rara de um juiz fazer). Depois tornou público um áudio feito fora do prazo (ilegal) e que envolvia a presidente da República (inconstitucional). Foi aplaudido.

Para verificar as fissuras no bloco anti-PT basta analisar os editoriais do Estadão e a postura do ministro do STF Gilmar Mendes. Ambos mudaram discursos e postura assim que o PT deixou o Planalto. A simbiose Lava Jato-Jornalismo beneficiou ambos no primeiro momento.

Não à toa, o STF virou palco dessa briga. A corte está dividida entre ministros lavajateiros e ministro do sistema. Ali eles se digladiam para ver quem vai ficar com o espólio da derrubada do PT. O bolsonarismo foi um elemento que bagunçou o coreto ainda mais.

Como notou a @mcfernandes nesta coluna, Lava Jato achou que o apoio a ela derivava apenas da ânsia anticorrupção. Mas boa parte do apoio era ânsia anticorrupção do PT. A Paulista, digo eu, ficou lotada por ódio de classe. Corrupção de Temer não importava.


O governo Bolsonaro é a representação disso. Surfou na Lava Jato, na luta contra a corrupção e adentrou o sistema. É só acompanhar o noticiário para ver que este governo não tem na luta contra a corrupção uma de suas prioridades.

O que chama atenção agora é que os "ministros do sistema" do STF (Toffoli, Alexandre de Moraes) adotaram métodos lavajateiros para lidar com os lavajateiros. O inquérito das "fakes news" é autoritário, assim como a censura à Crusoé e ao Antagonista.

A matéria censurada é uma matéria estilo "cobertura da Lava Jato 2014". Pintou o documento e os jornalistas publicaram. Me parece evidente que a intenção da fonte (um procurador, suponho) era queimar Toffoli. E o site se propôs a fazer isso.

Mas pior que esse tipo de jornalismo é a resposta de Toffoli e Alexandre de Moraes. Um inquérito autoritário e uma censura autoritária nada mais fazem que deslegitimar ainda mais o Supremo. Isso diante de um Executivo que promete acabar com a independência do Judiciário.

Lembremos: Bolsonaro tem um plano chavista para o STF. Prometeu em 2018 ampliar o número de ministros (como Chávez em 2003). Neste ano, na reforma da Previdência, embutiu mecanismo p/ expurgar o STF. Aliada na Câmara propôs revogar a PEC da Bengala (que também culmina em expurgo).

Por anos, ao criticar a Lava Jato e a imprensa e alertar para ruína da democracia, muitos ouviram: "é petista, vai pra Cuba". Agora um populista autoritário governa, o Exército está em seu momento mais forte desde a ditadura e ninguém acredita em nenhuma instituição. Estamos fudidos.

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