Bernardo Mello Franco
Depois de quatro meses e meio, o governo de Jair Bolsonaro enfrentou os primeiros grandes protestos. Estudantes e professores foram às ruas em mais de 200 cidades. Criticaram os cortes na educação e o sucateamento das universidades federais.
O presidente reagiu ao seu modo. Em vez abrir espaço ao diálogo, atacou os manifestantes. “São uns idiotas úteis, uns imbecis”, disparou, em sua segunda visita aos Estados Unidos. “A maioria ali é militante, não tem nada na cabeça. Não sabe nada”, prosseguiu.
Na terça-feira, o governo chegou a ensaiar uma manobra para esvaziar os protestos. Diante de uma dúzia de deputados, Bolsonaro ligou para o ministro da Educação e mandou cancelar os cortes. Era só encenação. Pouco depois, a ordem foi desautorizada pela equipe econômica.
O recuo do recuo gerou mais um curto-circuito no Congresso. Aliados que testemunharam a conversa sentiram-se enganados. “Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 parlamentares, não sou eu que vou passar por mentiroso”, esbravejou Capitão Wagner, do Pros.
Ontem o ministro da Educação seguiu a linha do chefe. Convocado a explicar os cortes na Câmara, Abraham Weintraub investiu no confronto. Provocou a oposição e perguntou se os deputados conheciam a carteira de trabalho, “a azulzinha”. Levou uma invertida do vice-presidente da Câmara, que comandava a sessão. “Eu me senti pessoalmente ofendido, porque também tive carteira assinada”, reagiu o deputado Marcos Pereira, do PRB.
O ministro atiçou a tropa bolsonarista, mas voltou a queimar pontes com aliados em potencial. Parlamentares do centrão, que o governo tenta incorporar à sua base de apoio, saíram irritados. A bancada da educação também reclamou. “Ele chegou com uma atitude ofensiva, não apresentou dados concretos e ficou inventando polêmicas”, resume a deputada Tabata Amaral, do PDT.
Ao atacar os manifestantes, Bolsonaro dobrou a aposta na polarização política. É uma estratégia arriscada, porque a eleição acabou e o presidente tem perdido popularidade desde que vestiu a faixa. Ao contrário do que ele disse, a educação não é bandeira de uma “minoria espertalhona”. Pode unir adversários e inflamar as ruas contra o governo. Chamados de “idiotas”, os estudantes ganharam um incentivo para dar o troco.
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