Vamos lá: o argumento “hurr durr socialista de iPhone” é péssimo não só pela constatação óbvia de que alguém precisa estar na sociedade (no nosso caso a sociedade capitalista onde tudo gira em torna da compra e venda) criticar a sociedade, mas por não entender o que Marx propõe.
A crítica marxista ao capitalismo gira em torno do seguinte princípio: o proletariado é a classe que, através de seu trabalho, produz todos os bens e commodities da sociedade. Como ela não detém controle dos meios de produção, porém, ela não consegue desfrutar disso.
Portanto um comunista (que em 99% dos casos é um proletário) emprega serviços oferecidos pela Netflix, pela Uber ou pela iFood, ele só tá usando bens produzidos pela própria classe trabalhadora. Afinal, não é o CEO da Uber que vem buscar a gente com o carro dele, né?
‘Ah, mas então quer dizer que a classe trabalhadora usufrui dos bens criados pelo capitalismo’
Uma parte dela, sim. A maior parte é privada dos bens que ela mesma produz, pois, o salário que lhes é pago não é suficiente nem pra sustentar uma família, quem dirá pagar Uber.
Além de Marx ter criticado o fato de que a classe trabalhadora não usufrui completamente de seu próprio trabalho, ele nunca propôs que a resolução desse problema fosse o fim do consumo. Ele entende que o capital força o consumo, e que todo consumo dentro do capital é antiético.
Então mesmo que você vá lá e arranje meios mais alternativos (não oferecidos por grandes corporações, por exemplo) de consumo, você ainda vai estar sustentando um modo de produção opressor e antiético. Mas Marx não sugere que isso seja culpa do indivíduo. É culpa do sistema.
Se Marx tivesse teorizado que o consumo individual fosse o problema, ele teria sido um monge franciscano ao invés de filósofo e economista. Mas a análise dele é muito mais profunda do que isso. Não é à toa que ele propõe uma revolução, e não que viremos todos ermitões.
Se você ainda não se convenceu e/ou não entendeu, fique com 15 minutos de @safbf falando sobre tudo isso e mais um pouco:
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