Por Luis Felipe Miguel
Está ameaçado o que resta do nosso Estado. Estão ameaçadas a saúde de todos nós e a vida de centenas de milhares. A possibilidade de instauração do caos é palpável, está na nossa frente.
Nos antigos impérios, quando o imperador se mostrava incapaz de permanecer no cargo, fosse por excesso de ambição, fosse por insanidade, procurava-se um jeito de retirá-lo do cargo. Seus próprios cortesãos tomavam a inciativa, às vezes de assassiná-lo, às vezes de afastá-lo de maneira menos radical.
Nos tempos mais amenos de hoje, imagino que a segunda alternativa deve bastar.
Mas cadê os nossos Brutus?
Desde os primeiros momentos do governo, ficou claro que a permanência de Bolsonaro no governo era um desastre certo, não só para o Brasil, mas para a humanidade. O descaso absoluto com a questão ambiental já era suficiente. Agora, com a pandemia de coronavírus, as consequências da manutenção de um mentecapto irresponsável na Presidência se tornam ainda mais evidentes – e a necessidade de removê-lo de lá, ainda mais urgente.
Não seria necessário um refugiado haitiano para nos dizer isso.
Pois eu leio no jornal de hoje que há um movimento “ainda restrito” de redução do apoio a Bolsonaro entre os conservadores brasileiros. Um dos entrevistados, um professor do qual eu nunca tinha ouvido falar mas que a reportagem diz ser uma sumidade dentro do conservadorismo tupiniquim, afirma estar arrependido de não ter votado nulo em 2018.
Votado nulo???
Quase um ano e meio do desgoverno mais absurdo da história do país, quiçá da humanidade, com o presidente da República fazendo o que pode para transformar uma crise sanitária já grave por si mesma numa hecatombe com potencial para matar dezenas de milhares de pessoas, e o conservador faz mea culpa para dizer que devia ter anulado o voto? Que a opção de ser governado pelo professor Fernando Haddad, a quem pode faltar muita coisa – pro meu gosto, uma boa dose de radicalidade – mas certamente não faltam preparo e bom senso, é a seu ver igual a ficar nas mãos desses apóstolos da irracionalidade e da estupidez?
Estamos vivendo um momento dramático. Está ameaçado o pouco que resta da nossa democracia. Está ameaçado o que resta do nosso Estado. Estão ameaçadas a saúde de todos nós e a vida de centenas de milhares. A possibilidade de instauração do caos é palpável, está na nossa frente.
Nesse momento, diante de um governo que é mais do que inoperante, um governo que trabalha ativamente para promover o pior, as forças políticas deveriam se unir para uma intervenção emergencial, que garanta uma resposta básica à crise sanitária e social.
Cabe à direita brasileira decidir o que ela julga mais importante salvar: sua vitória histórica face à classe trabalhadora, às mulheres, aos pobres, obtida em 2016 e 2018, ou o Brasil e seu povo.
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