Helton Simões Gomes
De Tilt, em São Paulo
A pandemia da Covid-19 já fez as primeiras
vítimas no Brasil, mas o medo gerado pela doença não faz as pessoas apenas
buscarem o isolamento. Ele também está sendo usado para espalhar uma onda de
teorias da conspiração, a mais notória delas diz que o novo coronavírus foi
supostamente criado artificialmente em laboratório.
O boato é disseminado pelo WhatsApp e aponta os
dedos para a China, que seria a origem do vírus. O próprio governo chinês não
ajuda e já sugeriu que os criadores seriam os norte-americanos. Todos, porém,
estão errados. E a prova veio de onde a gente mais espera: do laboratório de um
cientista.
Pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, Austrália
e Reino Unido constataram que o SARS-CoV-2, nome técnico do novo coronavírus,
surgiu a partir de processos naturais, resultado de seleção natural. As
conclusões da pesquisa, publicada na renomada revista Nature Medicine nesta
terça-feira (17), descartam as teses de que a doença teria nascido na bancada
de alguém mal intencionado.
"Nossa análise claramente mostra que o SARS-CoV-2 não é
uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente",
escreveu a equipe de cinco cientistas.
Participaram da pesquisa:
- Andrew
Rambaut, professor de evolução molecular da Universidade de Edimburgo;
- W.
Ian Lipkin, professor de epidemiologia da Universidade de Columbia;
- Edward
C. Holmes, professor de biologia evolucionária da Universidade de Sydney;
- Robert
F. Garry, professor da Universidade de Tulane.
- Kristian
Andersen, professor associado de imunologia e microbiologia do Scripps
Research
O causador da Covid-19 é o sétimo vírus da família do
coronavírus. Antes dele, surgiram MERS-CoV (síndrome respiratória do Oriente
Médio), SARS-CoV (síndrome aguda respiratória severa), HKU1, NL63, OC43 e 229E.
Ao comparar os dados disponíveis de sequenciamento de
genoma das cadeias do vírus, podemos determinar com firmeza que o SARS-CoV-2
foi originado a partir de processos naturais
Kristian Andersen, do Scripps Research
A hipótese da manipulação em laboratório foi afastada,
porque a estrutura do novo coronavírus é bastante diferente das dos outros
vírus da mesma família. O mais provável é que o causador da Covid-19 tenha
evoluído naturalmente, já que possui adaptações para se ligar a uma enzima
humana.
Essa capacidade, pontuam os cientistas, foi essencial para o
novo coronavírus atingir alto grau de transmissão entre humanos. Para entender
como essa melhoria ocorreu, os cientistas levantam duas hipóteses para o
surgimento do SARS-CoV-2 a partir de sua estrutura genética. A primeira é que
ele tenha sido originado por meio de seleção natural dentro de um hospedeiro
animal e, a partir daí, infectado seres humanos. Há nele características
similares às encontradas em vírus de morcegos e pangolins.
A outra tese é que o processo de adaptação tenha ocorrido no
organismo de um ser humano.
Os pesquisadores admitem que não é possível cravar a origem
do SARS-CoV-2. A análise é capaz apenas de descartar que tenha sido criado em laboratório.
"Mais dados científicos podem balançar o balanço de
evidências para favorecer uma hipótese em detrimento de outra. Obter sequências
virais relacionadas de fontes animais seria a maneira mais definitiva de
revelar as origens virais", afirmaram os cientistas.
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