LEITE COM PERA
Claudio Vigo
Toda geração acha que viveu o auge da humanidade, precedida de uma época de ouro, que dá uma certa nostalgia de um eterno retorno reparatório. Não entendeu muito bem? Leia Mircea Eliade, que tem um livro inteiro só sobre isso.
Costumamos colocar todo o mal na geração seguinte, como se não fossem fruto da maneira que os educamos ou das besteiras que fizemos ou deixamos de fazer.
Quem nasceu entre 1960 e 1980 atarraxou a última borboleta do caixão da Revolução Industrial, calcada na produção de bens materiais,objetos, e um acúmulo de informações e idolatria de obras de arte reproduzidas, gerando cópias que movimentavam uma indústria milionária. Tenha como exemplo o Rock e tudo que ele produziu em dinheiro, seja na venda de discos, ingressos, moda e comportamento.
Desde o início, a indústria do entretenimento se confunde com o conceito de massas. Os ídolos, Rodolfo Valentino, Andy Warhol ou Mick Jagger foram modelos que alimentaram este capitalismo, vendendo a imagem de transgressão e o desafio do mesmo. O que em alguns momentos de transbordamento aconteceu de verdade, gerando desafios e mal-estar, como maio de 68 e a luta pelos direitos civis e identitários.
Outro dia, sentado em uma mesa de bar vi um conhecido menosprezar seu filho de forma furiosa verbalmente, dizendo que o garoto era um merda porque não saia de casa, não brincava na rua, não aproveitava a vida. A primeira pergunta foi: vida de quem? A dele ou a sua? Quem passa o bastão sempre acredita que está entregando um tesouro, que pode ser percebido como um saco de bosta.
É muito comum hoje, entre nós, senhores que viveram com paixão as décadas de 60 a 90 do século passado acharmos que foram momentos únicos e mágicos da história: Revolução sexual, drogas, individualismo niilista,artes performáticas e uma sensação de que você estava mudando a porra toda, cool e transgressor pelo fato de ficar chapado e escutar um tipo de música.
Cobramos muito dos Millenials uma série de responsabilidades na transmissão e perpetuação deste legado, como se quiséssemos que o tempo parasse e houvesse a celebração do modo de vida que vivemos e desfrutamos.
Só podia dar errado: esta geração é pós industrial e se relaciona por livre associação e velocidade de conceitos. A grande maioria deles não vai passar 40 anos lendo tudo que aparece pela frente, como eu, quando a informação vem e vai em um nano segundo. Melhor, pior? Diferente. Não cultua pela acumulação de bens e sim o relativo, a transitoriedade e o opcional, seja no sexo, no trabalho e nas relações.
Não tenho condições de entender de verdade a realidade e a motivação de um hipster, um geek e as miríades de tribos que sequer eu sei o nome. As vezes me espanto com a ingenuidade, mas só podia ser assim. Já fui ingênuo há muito tempo atrás. Procuro conviver e acho que tenho alguns amigos bem interessantes entre eles, gente inteligente, mas muito diferente de mim. Que as vezes me irrita, o que é obvio.
Nunca tomei leite com pera na infância, tomava Toddy e meu maior medo era o Giabra e os Incas Venusianos. Temos o dever de intervir no que dá para ajudar, mas deixando a rapaziada se virar neste caos em movimento, assim como fizeram com a gente.
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