sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O grande escândalo que Greenwald denuncia


João Ximenes Braga

Eu não tenho roupa pra entrar nessa polêmica do Greenwald Gate, mas, depois de ler o texto dele e a repercussão no Twitter, alguns pitacos:

1. Comecei achando que era tudo da mesma linha Lulinha Gamecorp, vago, impreciso e sem crime detectável, até chegar à informação de que Biden, ainda enquanto vice de Obama, teria interferido na escolha do procurador geral da Ucrânia. É grave. Grave o suficiente para fazer o eleitor de Biden mudar pra Trump? Claro! O eleitor americano está sempre muito preocupado com que seus líderes não saiam por aí dando golpes em outros países.

2. Não vou me apressar em escolher minha teoria conspiratória nesse momento. Acabo de ler que Gloria Steinheim era agente da CIA e Naomi Klein é sua sucessora. Não tenho roupa pra isso, não mesmo (pensando de forma mais literal, depois de sete meses em casa, não tenho roupa nem pra reunião no Zoom). Descobriram um artigo de 2005 do Glenn criticando as esquerdas latino-americanas de forma tão idiotizada e infantilizada que, se confirmado que é dele, não prova que ele é de direita, só meio tosco, ou pelo menos era na época. Em outras palavras, não vou me meter a tirar conclusões sobre intenções (aquilo que os anglicistas de hoje chamam de "agenda"), seja do Greenwald ou da Klein, simplesmente porque não há como fazê-lo sem partir de ilações. Isto dito, a história de como esses emails vieram a público parece coisa de um John Le Carré emaconhado. Um laptop molhado esquecido casualmente com um técnico de computador apoiador de Trump em Delaware. Vale lembrar que um repórter ético, honesto e bem intencionado também corre risco de ser manipulado por sua fonte. Uma palavra pra vocês pensarem a respeito: Pasadena.

3. O grande escândalo que Greenwald denuncia, a censura, o conluio da grande imprensa americana para proteger o candidato democrata contra o republicano, soa um tanto quanto banal para quem vive no país da mais tosca farsa jornalística da História, o triplex do Guarujá, e parte de uma visão purista e vestal do que seria a ética jornalística, que é bem parente da suposta ética que se vê por aqui de chamar negacionistas, terraplanistas e fascistas para dar "o outro lado". A falsa equivalência, a falsa simetria que se estabeleceu no Brasil entre política e fascismo é o que está nos destruindo. E até agora o que Glenn parece estar cobrando da imprensa americana é que faça o mesmo. Ah, e o eleitor americano está muito preocupado que a imprensa tenha um candidato de preferência...

4. Não existe Esquerda e Direita nos EUA. Existem os confederados escravagistas e os estados do Norte, e, mais que nunca, isso está claro nestas eleições. Assim como aqui o que existe é Tiradentes e Joaquim Silvério. E isso, mais que nunca, ficou claro desde Temer, o maior Joaquim Silvério do século XXI. Seja por má fé ou por realmente acreditar nessa "ética" da imparcialidade que promove a falsa equivalência, falta à crítica de Greenwald à imprensa americana análise política e perspectiva histórica.

5. E a Vaza-Jato nisso tudo? Bem, já tem um monte de teoria conspiratória sobre isso, escolha a sua e se lambuze. Até agora, não vejo qualquer indicação concreta de que uma coisa comprometa a outra.

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