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domingo, 2 de agosto de 2020

Hoje, mais do que nunca, ser otário no Brasil é uma questão de OPÇÃO.


Semiótica bolsonarista pra enganar você.


A primeira foto foi postada nas redes sociais do presidente nos últimos dias pra fazer propaganda da cloroquina. Uma mesa de computador velha coberta com algo parecido com um papel kraft, pratos e xícaras domésticos, uma garrafa térmica simples, um pote de plástico, uma parede vazia ao fundo e uma menorá — me disseram que o nome correto é "chanukiah"— em cima da arca (me admira a falta da bandeira norte-americana pra complementar a reverência). Um homem do povo fazendo uma pausinha no trabalho pra comer um pão com margarina. Quase parecido com você, trabalhador.

Bolsonaro mora no Palácio da Alvorada, a residência oficial mais suntuosa do país. A sala de refeições onde ele REALMENTE toma café pode acomodar 50 pessoas, tem decoração da Anna Maria Niemeyer, esculturas do André Bloc, a mobília é toda em cedro do século XIX, as tapeçarias na parede são da Concessa Colaço e os talheres são originais do Palácio do Catete, todos em prata.

Hoje, mais do que nunca, ser otário no Brasil é uma questão de OPÇÃO.

terça-feira, 28 de abril de 2020

O Brasil real

Bolsonaro era o PIOR candidato que um país poderia ter, é o PIOR presidente do planeta, e todo mundo que o elegeu SABE disso. Mas é precisamente por desejar o pior que o povo o elegeu. 
Por Victor Tufani
Através de Vinícius Carvalho

1 - Se a gente fosse "analisar" a sociedade brasileira de colherada, como tem sociólogo de Twitter fazendo, supondo que seja possível abarcar uma sociedade tão complexa em 140 caracteres de frase pronta, a única conclusão possível seria a ortodoxa: O Brasil não dispõe de uma classe trabalhadora organizada, nem sequer organizável, dispõe de uma massa de lumpemproletários sem a menor capacidade nem de exigir o direito de ficar vivo. Se nem isso conseguimos, exigir que nos mantenham VIVOS, que dirá o resto.

2 - Só existe outro abismo tão profundo quanto aquele entre ricos e pobres neste país: É o abismo no seio da própria classe média, entre a classe média com capital cultural e a camada remediada, que ascendeu pelo trabalho e não pela educação. A gente pode brincar que uma gosta de sertanejo universitário e a outra de Caetano e Chico Buarque, ambas morando no mesmo condomínio, mas o estereótipo tem raízes graves na realidade, e essa distinção tem feito a diferença entre quem apoia cientistas e quem está nas carreatas e aglomerações se oferecendo ao coronavírus. É uma diferença absoluta, entre a preservação de vidas e o suicídio coletivo.

3 - Bolsonaro, se tiver 30% de fanáticos na sua base eleitoral, tem o apoio incondicional de 15 milhões de pessoas, é MUITA coisa. Elas só não fazem o que ele manda porque ele não tem nada ainda a oferecer. Não pode oferecer nem imunidade contra as leis, que dirá dinheiro, cargos e estabilidade. A grande diferença entre ele e os fascistas que conhecemos no passado é que ele não pode formar suas unidades de assalto e seus exércitos. É perigoso, mas tem que comer muito feijão pra ser Mussolini.

4 - A única coisa que nos protege do Bolsonarismo PRA VALER no momento é pacto federativo, o fato de termos presidente, e não rei. A possibilidade de governadores ouvirem secretários de saúde e cientistas e tomarem medidas por conta própria preveniram centenas de milhares de mortes até agora, por mais que a gente saiba que Witzel, Doria e outros são canalhas. Se o Bolsonarismo fosse a lei, chegaríamos em meses a mais de um milhão de mortos, teríamos agora centenas de milhares de caixões, e estaríamos num caos que ainda não experimentamos.

5 - Não existe esquerda no Brasil. Existe eu, você, cidadãos esquerdistas, mas esquerda de fato não tem. E só terá quando os partidos e organizações que se dizem a esquerda hoje compreenderem que o buraco em que nos enfiamos é consequência, não da ingenuidade e da falta de instrução, mas de um DESEJO profundo do povo brasileiro, que não soube lidar emocionalmente com a movimentação das bases sociais, das placas tectônicas, depois de 500 anos de massacre, escravidão e miséria. Foi demais pro espírito da maior parte da população, e a resposta foi justamente demonizar a esquerda e eleger os maiores canalhas e assassinos possíveis em todas as prefeituras e estados, até o assassino mor pra presidente. Bolsonaro era o PIOR candidato que um país poderia ter, é o PIOR presidente do planeta, e todo mundo que o elegeu SABE disso. Mas é precisamente por desejar o pior que o povo o elegeu. No dia em que a esquerda souber admitir isso, que existe algo venenoso no sangue do povo brasileiro, que algo se corrompeu gravemente e que é DISSO que a gente precisa ir atrás, com energia, e provavelmente com alguma dose de autoritarismo e violência, existirá esquerda e algum horizonte de justiça social, quem sabe socialismo. Até lá vamos ficando com as notinhas de repúdio.