Bernardo Mello Franco
Donald Trump escolheu um novo alvo para despejar sua ira: o deputado Elijah Cummings, do Partido Democrata. Em tuítes raivosos, o presidente chamou o oposicionista de corrupto e inoperante. Ele também descreveu seu distrito eleitoral, de maioria negra, como um lugar “repugnante” e “infestado de ratos”.
Na terça-feira, Trump foi questionado sobre a estratégia por trás dos insultos. Ele negou que a baixaria seja calculada. “Não tenho estratégia. Zero estratégia”, disse, antes de embarcar no helicóptero presidencial.
Na mesma terça, Jair Bolsonaro deu entrevista à repórter Jussara Soares. Ela perguntou se suas declarações agressivas são calculadas. Ele jurou que não. “Sou assim mesmo. Não tem estratégia”, respondeu.
Trump e Bolsonaro têm pavio curto e sofrem de incontinência verbal. No entanto, seria ingenuidade pensar que fazem tudo de improviso. Os dois farejaram o potencial da ofensa como arma política. Na era das redes sociais, perceberam que o insulto rende cliques e votos.
Nos EUA, a estratégia de Trump já deixou de ser segredo. O republicano aposta na divisão do país e no clima de confronto permanente. Com isso, mantém sua base mobilizada e estimula os conservadores a irem às urnas.
Antes de mirar em Cummings, o presidente torpedeou quatro deputadas que também representam minorias. Seu objetivo é claro: inflamar os eleitores brancos da América profunda, que têm pesadelos com as mudanças trazidas pela imigração.
Bolsonaro é um veterano da indústria do ódio. Sempre apostou no radicalismo para se eleger deputado. No passado, o discurso sectário o mantinha isolado no baixo clero do Congresso. No Brasil de 2018, ajudou a botá-lo na Presidência.
Pela lógica da política tradicional, o capitão já deveria ter recolhido as armas. Ele tem optado pela estratégia oposta, na tentativa de agradar os seguidores mais fanáticos. O bolsonarista-raiz é fiel: está disposto a fechar os olhos para todas as trapalhadas do governo, desde que seu líder continue a esbravejar contra o comunismo.
Se essa turma somar 30% do eleitorado em 2022, o presidente já garante uma vaga no segundo turno.
Trump e Bolsonaro dizem não ter uma estratégia por trás do discurso agressivo. Mas o objetivo deles é claro: acirrar a divisão e manter a tropa mobilizada.
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