quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A tirania do escárnio


João Ximenes Braga

Dentre os acontecimentos das últimas 24 horas, a PF consegue prender membros de uma brigada de incêndio que combatia incêndios no Pará acusando-os de promover incêndios; um homem que ridiculariza Zumbi dos Palmares é nomeado diretor da Fundação Palmares e Gebran aumenta a pena de Lula para 17 anos justamente porque o ex-presidente "ocupava o máximo grau de dirigente da nação brasileira", logo depois de afirmar que "a premissa de conotação política é estranha ao processo".

Não basta fazer o que querem, precisam zombar, desdenhar, tripudiar. Lembram quando a gente reclamava da hipocrisia do mundo político? Agora o que dá o tom é o escárnio.

Tudo na política econômica é escárnio. É escárnio dizer que vão voltar com impostos sobre a cesta básica, que tá tudo bem o dólar aumentar, que vão acabar com a aposentadoria e com os direitos trabalhistas para aumentar empregos. É escárnio o que se vê na fala de Guedes quando ironiza os jornalistas que lhe cobram o que disse de AI-5. É tudo escárnio.

O novo diretor da Palmares não é um personagem novo por ser negro e dizer que não existe racismo. O que o torna particularmente adequado aos tempos é a capacidade caudalosa de ofender as pessoas que seu cargo deveria defender. Se bem que nem isso é novo, claro. Todos, mas todos os ministros e secretários desse tirano são inimigos de suas respectivas áreas (salvo a do agro, claro).

Que o governo Bolsonaro tinha como objetivo destruir, sempre soubemos, ele deixou isso claro o tempo todo. Mas acho que ninguém esperava que o fizesse nesse tom constante de zombaria. É um talento inato para caçoar, humilhar, desprezar. E, claro, se cerca de pessoas que espelham esse talento.

Viramos a tirania do escárnio. Cospem na nossa cara e riem com aquele esgar abestalhado, aquela gargalhada surda que sai a golfadas de suas cabeças ocas e cheias de vermes.

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