Os que vivem de ilusão
Uma parte considerável da esquerda ainda não entendeu o tamanho da derrota política que levou ao impeachment de Dilma Rousseff e à prisão de Lula, um político de centro-esquerda, com impressionante liderança popular.
Vivem de ilusão.
Ainda não perceberam a dimensão das articulações entre a extrema direita e os liberais autoritários para atraírem o centro liberal e o centro político anódino para uma composição visando isolar a esquerda e, reforçando o poder das máquinas repressivas do estado, perseguirem e eliminarem lideranças populares, particularmente as mais expostas em confrontos sociais.
Por que não entenderam?
Porque vivem de ilusão e se alimentam de voluntarismo.
São comportamentos da mesma natureza dos experimentados pela esquerda derrotada, inapelavelmente, nos anos 60 e 70, no Brasil e em grande parte da América Latina, particularmente no Cone Sul com as suas ditaduras duradouras.
Muitos, no pré-golpe de 64, achavam que iriam fazer reformas distributivistas radicais na lei-ou-na-marra e que iriam cortar a cabeça da direita se esta ousasse desafiar os governos civis constitucionais. Com suas ilusões e voluntarismo foram expulsos da vida política com violência e com base na lei, forjada pelos vencedores, foram excluídos por 15 anos do país e alguns para sempre, torturados e assassinados.
Política é conquista da maioria, sempre, seja para reformas numa democracia, seja para golpear a democracia. Os golpistas longevos foram sustentados não apenas pelas armas, mas também porque tiveram apoio popular.
Combater a escalada autoritária que nos ameaça, que cada dia aperta mais e mais o cerco às liberdades e aos direitos sociais e civis, passa por um abandono às ilusões.
Não há atalhos.
Ou trabalhamos para costurar uma maioria que defenda a democracia e os direitos civis, juntando esquerda, centro-esquerda, liberais, democratas de qualquer orientação de política econômica, ou seremos, mais uma vez, derrotados pela direita autoritária.
Direita que, desta vez, nem precisará que militares assumam o comando direto das operações (estes estarão dando o suporte), pois possuem duas expressivas e populares lideranças políticas à disposição: o atual presidente eleito, Jair Bolsonaro e seu ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro.
A luta é pela conquista da maioria. Quem for isolado primeiro, a direita autoritária, representada por Bolsonaro e/ou Moro, ou a esquerda, será o derrotado.
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