segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Weintraub e Damares são ruins demais até para a Folha


Luis Felipe Miguel

Weintraub e Damares são tão absurdos que, diante deles, até a Folha consegue acertar. Publicou hoje editorial intitulado "Macarthismo escolar", condenando a iniciativa de criar um disque-denúncia para que pais reclamem de escolas e professores.

Como punição, as instituições denunciadas teriam cortado o repasse de verbas do MEC. O objetivo é claro: fazer com que secretários de educação e diretores escolares incorporem o papel de censores, para evitar o risco de retaliação.

É uma tentativa de impor o Escola Sem Partido sem sequer passar pelo Congresso e burlando o Judiciário, que suspendeu, por inconstitucional, a vigência de legislação do tipo aprovada em âmbito local.

Em certo ponto, o editorial diz: "Sim, alunos e pais têm direito a ver respeitadas suas convicções religiosas em sala de aula. O princípio não lhes dá autoridade, contudo, para exigir que o professor ensine explicações criacionistas sobre a origem da vida e da espécie humana em pé de igualdade com a teoria da evolução por seleção natural, consagrada pela ciência".

É complicado fundir "alunos e pais". A escola serve também como instrumento de possível libertação dos filhos em relação à família, dando a eles contato com outras visões de mundo e permitindo que se transformem em pessoas autônomas. A luta dos obscurantistas do Escola Sem Partido não é pelo respeito às convicções de "alunos e pais", mas para que os pais imponham sua visão de mundo aos filhos sem qualquer possibilidade de escrutínio crítico e de pensamento independente.

E o exemplo da seleção natural é óbvio, mas é preciso falar também, com clareza, do materialismo histórico e dos estudos de gênero, que fazem parte do conhecimento científico acumulado pela humanidade e que, portanto, devem ter lugar garantido na formação escolar.

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