Ministros ideológicos como Weintraub e Ernesto sabotam o Brasil
Mathias Alencastro
A rodada de sondagens confirmou uma tendência há muito antecipada. Jair Bolsonaro é o único presidente que viu a sua popularidade derreter nas últimas semanas.
A batalha contra a pandemia reabilita o papel do Estado na sociedade, a autoridade das instituições e a credibilidade da investigação científica. Na prática, ela favorece todos os chefes de governo e de Estado, independentemente da sua ideologia. De Trump a Macron, todos saíram por cima.
Todos, menos Bolsonaro.
A imagem do Brasil no mundo tem sofrido horrores com o posicionamento presidencial.
China, OCDE e a OMS se revezam para dar broncas humilhantes. Multiplicam-se episódios de xenofobia contra brasileiros, injustamente associados ao governo. Poderia ser diferente.
Da união nacional em torno do ministro Luiz Henrique Mandetta, ao ativismo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passando pela mobilização do consórcio do Nordeste idealizado por Mangabeira Unger e encampado pelos governadores, o Brasil tem incontáveis narrativas que poderiam, juntas, contar uma história de resistência e coragem.
Mas a margem para nuances é mínima num contexto de caos global. O mundo olha para o Brasil sob o prisma exclusivo de seu presidente e, pior ainda, de seu iluminado chanceler.
Na última reunião do G20, os dois se limitaram a sorrir e abanar uma caixa de cloroquina, proporcionando aos seus homólogos um agradável momento de alívio cômico.
Imensas são as consequências de contar com um governo que faz piada com a maior crise dos últimos 50 anos. Vive-se um momento único de desorganização nas relações internacionais.
Agentes dos países do G7 se acotovelam no aeroporto de Xangai para adquirir a seus respectivos governos o carregamento de aviões prestes a decolar para outro destino.
Governadores norte-americanos negociam ventiladores respiradores com oligarcas russos sob sanção internacional. Alfandegários turcos bloqueiam encomendas chinesas destinadas a médicos espanhóis.
Cenas que lembram episódios da Guerra Fria, quando carregamentos de aviões soviéticos eram disputados por diferentes movimentos rebeldes nos confins da África.
Nesse novo coração das trevas, a coesão nacional é um dos mais valorosos ativos dos governantes.
Neste sábado (4), quando os governadores do consórcio do Nordeste tentavam garantir mais um envio de insumos médicos que podem salvar a vida de milhares de brasileiros, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez troça dos chineses, deslanchando uma onda de animosidade nas redes sociais.
Dias antes, o embaixador da China havia deixado claro que as manifestações hostis teriam consequências.
Aqueles que defendem o isolamento presidencial como melhor saída para a gestão da crise esquecem o impacto da sabotagem do Brasil pelos ministros ideológicos.
Em situações de grande mobilização institucional, a hierarquia importa, e as irresponsabilidades de Ernesto, Weintraub e companhia podem arruinar os esforços dos ministros, do Congresso e dos governadores.
Os deputados e sobretudo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que usou pela primeira vez o termo “guerra” para evocar a resposta à pandemia na semana passada, devem estar cientes de que é impossível vencer um conflito desses com bufões na linha de frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário