Leandro Fortes
ADEUS, CLOROQUINA
Em algum momento da crise, provavelmente orientado pelos filhos idiotas e por algum desses assessores olavistas que pululam no governo, Jair Bolsonaro pensou que poderia se aproveitar de uma pandemia para reforçar a imagem mítica que, com a ajuda da mídia e da ignorância popular, construiu junto a seu público de boçais.
Assim, na contramão da Organização Mundial da Saúde e contra todas as recomendações de todos os cientistas do planeta, lançou-se em uma cruzada pessoal contra a política de isolamento social apontada, hoje, como única possibilidade de a raça humana superar a epidemia do novo coronavírus sem ter que, em breve, empilhar milhões de corpos em crematórios de campanha.
Como todo oligofrênico estimulado, Bolsonaro acredita nas próprias convicções como se ciência fossem, mas, no caso da pandemia, necessitava de uma narrativa que transbordasse alguma credibilidade para os fanáticos que o seguem, sobretudo, nas redes sociais. Daí, surgiu a admiração do presidente pela cloroquina, droga usada no tratamento da malária e de doenças reumáticas.
Bolsonaro, claro, não pensou nisso sozinho nem tirou essa ideia da cartola do astrólogo Olavo de Carvalho, o guru descrente da pandemia. O poder de cura da cloroquina e seu componente político no enfrentamento à oposição ao isolamento veio de Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, a quem Bolsonaro e os filhos prestam uma vassalagem tão anedótica quanto constrangedora.
Assim, enquanto pôde, Bolsonaro saiu às ruas para abraçar pessoas e mostrar ao mundo sua absoluta falta de limites e sua estupidez infinita, pongado no discurso de que, além de ser uma gripezinha, o Covid-19 logo seria sepultado pela ação da cloroquina. Era o que dizia o Grande Patrão do Norte, logo, não poderia estar errado.
No pronunciamento de ontem, simbolicamente abafado pelos panelaços da classe média estúpida que o elegeu, Bolsonaro, enfim, foi obrigado a capitular, a contragosto. Até sobre a cloroquina, panaceia que iria salvar o mundo, teve que ser moderado. Afinal, nos EUA, Trump colocou 2 trilhões de dólares na economia (6% do PIB), passou a apoiar o isolamento social e a apostar na descoberta de uma vacina. Deixou Bolsonaro falando sozinho.
Em cadeia nacional, com uma aparência cada vez mais sinistra, envolto numa bruma de neurastenia crescente, Bolsonaro tentou, mal e porcamente, passar a imagem de um homem ponderado, ciente de seu papel de governante, em contraposição à sua natural performance grotesca de miliciano empoderado. Não poderia ter soado mais falso.
No dia seguinte, o escorpião picou o sapo: no Twitter, postou um vídeo de uma pessoa acusando os governadores de quererem matar o povo de fome.
Pobres das almas que esperam ver jorrar alguma dignidade desse esgoto a céu aberto, no Planalto Central.
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