sexta-feira, 29 de maio de 2020

A sexta-feira da vergonha


Ignácio de Loyola Brandão 
Menores de 100 anos deveriam ter sido poupados da reunião do dia 22 de abril
Quando crianças, os adultos nos mandavam para fora da sala, porque não devíamos ouvir conversa de gente grande. A expressão era: tem gente descalça.

Pois a reunião de 22 de abril dos ministros brasileiros devia ter sido poupada a menores de 100 anos. Jamais vi tanta semvergonhice junta, tanta grossura exposta, conversa de boteco, total descalabro.

Se houve a Noite de São Bartolomeu, se houve o Baile da Ilha Fiscal, também aconteceu a Farra dos Guardanapos, houve igualmente a Sexta-Feira dos Sem-Vergonhas. Ali só faltaram Waldemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, medalhas de ouro das indecências.

Mário Souto Maior, folclorista pernambucano da mesma estirpe de Câmara Cascudo, celebrado até por Gilberto Freyre, poderia processar o governo por direitos autorais, uma vez que todos os palavrões constantes de seu ótimo Dicionário do Palavrão e Termos Afins (tenho a edição da editora Guararapes, do Recife, lançada em 1980) foram ditos e repetidos pelo presidente. Desde o usual, sonoro, FDP ao modesto e quase ignorado prexeca, órgão sexual feminino em Goiás.

Souto Maior definiria aquele bando de ministros (porque é um bando, aglomerado, quadrilha, gangue) como Filhos-de-Guarda Noturno, para não dizer FDP, uma vez que, segundo Jan, filho de Mário, o pai nunca disse um palavrão.

Difícil escrever sobre palavrões sem poder nomeá-los explicitamente para não parecer mal-educado.

O que acharam as mães - se é que eles as têm -, filhas, tias, avós, mulheres e irmãs daquela máfia de desclassificados? Falta de pu- dor, diriam, de compostura, respeito, de vergonha na cara, pura grosseria, achincalhe, rusticidade, enfim, a maior alarvaria, se me entendem.

Enfim, Mário Souto Maior definiria aquele conjunto de ministros como um bando de cheira fundo, que ele definia como "chaleira, capacho, pessoa sem personalidade". O sinônimo é pior: "Cheira-rabo". Para não dizer outra coisa.

É o que se viu. Achei curioso é que nenhum diretor, gerente, caixa, funcionário do Banco do Brasil se preocupou com o desclassificado Posto Ipiranga da Economia dizer que o BB é puro estrume.

O Supremo Tribunal Federal então fez como se não fosse com ele. Todos aceitaram serem chamados de vagabundos. O que há minha gente? Todo mundo dopado?

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