sábado, 30 de maio de 2020

Grupos que apoiaram o golpe, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro agora querem apoio das vítimas sem nem sequer pedir perdão





Não dá para esperar muito de manifestos políticos amplos - em geral são peças retóricas tão grandiloquentes quanto vazias. Mas o tom do "Juntos", nome de fantasia do novo esboço de Frente Ampla, que inclui entre os signatários muita gente que eu respeito, me parece particularmente equivocado.

É um chamamento para que "partidos, seus líderes e candidatos agora deixem de lado projetos individuais de poder em favor de um projeto comum de país". Em seguida: "Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum". E a cereja do bolo: "Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem" etc.

O paralelo histórico é mentiroso. As Diretas Já foram um movimento amplo em busca de um objetivo pontual, a volta das eleições diretas para presidente, que visava alargar e democratizar a disputa política, não escondê-la em nome de um elusivo "projeto comum de país".

O manifesto faria melhor se afirmasse que o objetivo é retirar Bolsonaro da presidência da República, em vez de afetar uma unidade de projeto que é enganosa e que, a gente sabe, se traduz concretamente no silenciamento das demandas da classe trabalhadora.

Ao final, está escrito: "Com ideais e opiniões diferentes, comungamos dos mesmos princípios éticos e democráticos".

Quer dizer que as pessoas que eu respeito e admiro que assinam o manifesto têm os mesmos "princípios éticos e democráticos" que Fernando Henrique Cardoso, Cristovam Buarque, Roberto Freire, Luciano Huck e Joel Pinheiro da Fonseca, entre outros, que também estão entre os signatários?

Eu, hein? Felizmente sei que são só palavras ao vento, senão ficaria seriamente preocupado.

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