Orlando Calheiros
Um dos maiores equívocos é acreditar que a redução da base de apoio popular bolsonarista aos 30% representa a derrocada da ultradireita e até do próprio bolsonarismo. E uma expansão de alas mais "progressistas" (palavra que odeio).
Para começar, existe um dado bastante complexo que aparecem em algumas pesquisas (inclusive na minha), pessoas que não gostam da atual gestão mas que, dependendo do candidato, votariam novamente no presidente. PT e PSOL costumam ser muito citados como exemplos malditos.
E isso, me parece, é
(1) sintoma da própria maneira como as esquerdas se colocam de forma reativa no debate político - especialmente desde meados de 2015/16 -, limitando-se a reagir, denunciar e expor o outro lado.
(2) Sobretudo, da relativa ou completa ausência das esquerdas em alguns territórios mais afastados dos Centros (periferias, favelas, subúrbios...). Digo isso desde 2016, fake news sobre políticos florescem, sobretudo, no vácuo ocupacional.
Segundo, que existe uma base que rejeita Bolsonaro não pela sua posição extrema, mas por esta não ser extrema o suficiente ou por não ser eficaz. A rejeição a aliança com o centrão e até a ruptura com Moro tendem a entrar nessa régua.
Existem intervencionistas e intervencionistas. Alguns estão com Bolsonaro (especialmente os olavistas), outros não. Inclusive, é interessante ver que alguns debates clássicos da esquerda sobre reformismo versus revolução aparecem entre eles.
Alguns eleitores conservadores, especialmente os mais tradicionais, também já abandonaram o barco. Lavajatistas idem, liberais à brasileira também. Sempre bom lembrar, quando a base começou a diluir, Olavo fez um apelo pela criação de uma militância exclusivamente bolsonarista.
Eles sabem que a diluição da base se dá entre as múltiplas vertentes da direita, quase não há - se é que há - transferência significativa para a esquerda. A gente só existe enquanto fantasma para eles.
Em uma nova eleição essa base diluída pode muito bem se organizar novamente ao redor de um candidato à extrema-direita, inclusive, ao redor do próprio Bolsonaro.
Infelizmente, eu diria que essa é a tendência atual.
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