sábado, 23 de maio de 2020

O fetiche de Jacarta


Como todo arrivista, o Grande Mentecapto é boquirroto, não resiste a fazer suas bravatas. Ele se realiza pela vocalização de seus desejos e temores, e assim acabamos conhecendo seu programa. Por isso ficamos sabendo de seus planos, através do vídeo revelador que veio a público. O que sabemos: que ele conta com uma milícia de seguidores que estão se armando desde a posse, e foi para isso que propôs a flexibilização do controle de armas de fogo; que seus filhos começaram no ano passado a inscrever no "curso de filosofia" daquele astrólogo centenas de oficiais das Polícias Militares de alguns estados; que os motins da PM no Ceará e no Pará foram um ensaio de sublevação; que centenas de caminhoneiros estão armados, organizados em redes de whatsapp por rotas, dispostos a bloquear estradas, isolar cidades e atacar prefeituras e sedes de governos que se opõem a Bolsonaro; que, não por acaso, nosso Napoleão de botequim acaba de trocar o comandante da Polícia Rodoviária Federal.

Por enquanto, o Mentecapto tem sido contido pelos ministros militares mais próximos, mas se e quando a Justiça fechar o cerco contra seus filhos, ele pode perder completamente o controle e tentar a sublevação com a qual sonhou desde que ingressou na escola de oficiais do Exército. Onde seu projeto de incêndio encontra combustível: a extrema direita brasileira com matriz nas Forças Armadas e entidades como a Opus Dei e algumas seitas neopentecostais alimenta o chamado "fetiche de Jacarta": sonha com um país sem esquerda, sem pensamento crítico, sem o que considera a vulnerabilidade das mulheres e dos homens delicados, com indígenas e quilombolas diluindo-se nas favelas, junto com os outros pobres e pretos, com a Amazônia transformada em uma grande pastagem intercalada aqui e ali por crateras de mineradoras. Para isso acha que precisa eliminar fisicamente (Flávio Bolsonaro diz "neutralizar") toda expressão de pensamento progressista, que eles chamam de "comunismo". Mas Bolsonaro e seus asseclas sabem que o Brasil seria eliminado do concerto geral das nações se isso acontecesse. Então, o projeto econômico dos criminosos que o apoiam se tornaria inviável. Por isso ele pratica esse jogo de morde-e-assopra, tentando esgarçar o tecido da democracia até que caiba na Constituição o poder que julga merecer. É preciso que não apenas as instituições da República marquem firmemente os limites de suas diatribes, mas que as empresas cujos aplicativos servem de rastilho para esse enredo insano monitorem suas redes e que os governadores que ele considera seus inimigos mantenham o controle de suas forças policiais. Bolsonaro alimenta um projeto de poder absoluto e tem os pés no chão. Todos os quatro.

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