Restrição a voos do Brasil para EUA é resultado de resposta trágica de Bolsonaro à Covid
Kennedy Alencar
São Francisco, Califórnia
A restrição aos voos do Brasil para os Estados Unidos era uma decisão que vinha sendo anunciada fazia tempo pelo presidente Donald Trump. Ele já havia comentado a situação de descontrole da pandemia no Brasil.
Do ponto de vista sanitário, a medida de Trump faz sentido no momento em que a Organização Mundial de Saúde diz que o epicentro da pandemia está agora na América Latina e que o Brasil é o país mais preocupante.
Política e eleitoralmente, Trump precisava tomar uma medida para proteger a população da Flórida, Estado mais visitado pelos brasileiros. A disputa entre Trump e Joe Biden está apertada na Flórida, visto como um Estado decisivo para obter maioria no Colégio Eleitoral.
Logo, os motivos eleitorais se uniram aos sanitários para barrar a entrada de brasileiros no país em geral e na Flórida em particular. Haverá eleições nos EUA em 3 de novembro.
Para o Brasil, a decisão contribui para prejudicar ainda mais a imagem internacional do país. Além das implicações nas viagens internacionais de brasileiros, que passam a ser vistos todos como suspeitos de transmissores do coronavírus, há os efeitos econômicos e políticos. O maior isolamento no cenário internacional resultará em mais danos à nossa economia.
A boa relação pessoal entre Trump e o presidente Jair Bolsonaro, cultivada pela subserviência do brasileiro ao americano, não foi suficiente para evitar a medida da Casa Branca. Na verdade, esse complexo de vira-latas do Bolsonaro é o que marca com os EUA, sem nenhum benefício real para o Brasil. Só rendeu perdas de espaço e prestígio no cenário internacional.
Esse quadro de terra arrasada no Brasil, de pandemia fora do controle, é uma obra de Bolsonaro. E Trump sabe disso. A resposta de Bolsonaro ao coronavírus tem sido completamente errada e contribuído para agravar os efeitos da pandemia, aumentando o número de casos e mortes no país.
O Brasil não tem ministro da Saúde, não possui estratégia nacional de combate ao covid-19 e não tem governo capaz de formular essa resposta ao mais grave problema de saúde pública do planeta em 100 anos.
Bolsonaro age como um genocida devido à sua incompetência, despreparo e irresponsabilidade ao lidar com a covid-19. Enquanto São Paulo fazia uma ginástica para emparelhar feriados e manter o isolamento social num grau mais alto, vimos o presidente mais uma vez estimular aglomerações e dar o pior exemplo possível para conter o coronavírus. O presidente promove uma tragédia.
Só o afastamento de Bolsonaro do poder permitirá ao Brasil elaborar uma resposta eficiente ao coronavírus e começar a reconstruir o país a partir de ruínas deixadas pelo atual governo. Não enxergar que Bolsonaro já deveria estar respondendo a um pedido de impeachment ou a uma denúncia do procurador-geral da República custará caro aos brasileiros. Mais vidas serão perdidas e pior será o país para as próximas gerações.
A única coisa que pode ajudar o Brasil no combate ao coronavírus é “Fora, Bolsonaro”.
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Ação rápida e efetiva
A Califórnia foi um Estado duramente atingido pelo coronavírus, mas que soube dar respostas rápidas e duras. Quando havia 19 mortes e cerca de 900 casos no Estado, em meados de março, a Califórnia foi o primeiro Estado a decretar um bloqueio total, o chamado lockdown, para 40 milhões de habitantes. O governador, o democrata Gavin Newsom, foi muito rigoroso no fechamento de praias, por exemplo.
Deu resultado. O Estado teve desempenho melhor do que Nova York, onde com 360 mil casos e mais de 23 mil mortes. Na Califórnia, houve mais de 90 mil casos e mais de 3.600 mortes. No país, ocorreram até agora mais de 1,6 milhão de casos e quase 100 mil mortes.
Neste momento, 18 dos 50 Estados têm ritmo de crescimento de casos acima da média. 22 permanecem estáveis. Apenas 10 estão com casos em queda. É preciso reabrir a economia com cautela. Do contrário, novos surtos podem aparecer.
Em Califórnia, que sofre com incêndios, a estratégia de combate à Covid-19 foi parecida. Tem de apagar logo os focos de incêndio. Tem de agir no começo e duramente. Foi exatamente o que Bolsonaro não fez. Por isso, ele é responsável pelo genocídio em curso no Brasil, que é assistido pelo mundo com horror.
Em São Francisco, praias e parques ficarem lotados no fim de semana do Memorial Day (Dia da Memória), no qual são honrados e lembrados os que morreram nas guerras americanas. Com temperaturas dignas de verão em plena primavera, as pessoas saíram de casa. Nos parques, a prefeitura fez marcas com círculos de cal na grama para que grupo pudessem se socializar respeitando as recomendações de distanciamento físico. Na praia, os grupos se organizavam de modo a seguir o mesmo protocolo.
Foi interessante a atitude das pessoas nos parques e praias, com obediência ao distanciamento social, mas encontrando um jeito de viver a vida em meio a pandemia, durante um novo normal que deve durar para além da primavera e do verão.
Em São Francisco, restaurantes, bares e cafés podem abrir para serviços de encomenda, mas não é possível jantar nesses estabelecimentos como na Geórgia, Flórida e Carolina do Sul.
No centro de São Francisco, há uma grande população de moradores de rua. Alguns hotéis foram transformados em abrigos, mas as ruas estão cheias de barracas de acampar. A população de rua é um dos grupos mais vulneráveis à covid-19.
O departamento de saúde de São Francisco tem dado álcool, maconha e cigarro em doses mais moderadas para que os sem-teto fiquem nos abrigos. A avaliação, do ponto de vista de saúde pública, é que essas doses ajudam a conter a difusão do vírus por reduzir a circulação pelas ruas em busca de drogas.
No voo de Dallas (conexão) para São Francisco, quase todos os assentos estão tomados, inclusive os do meio. As companhias aéreas dizem que não é viável economicamente voar com o bloqueio desses assentos. Avião lotado, o comandante pediu que fossem apagadas duas fotos dos passageiros sentados e devidamente mascarados. Ameaçou tomar o celular. Foram apagadas, mas uma delas já havia sido postada no instagram @blogdokennedy, onde há imagens da “Corona Trip”.
Como outras empresas do setor, a American Airlines não gosta da imagem de fotos lotados em meio a uma pandemia. Nos aeroportos, lojas e restaurantes estão quase todos os fechados. Havia algumas lanchonetes abertas.
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