segunda-feira, 25 de maio de 2020

E as outras?



Ruy Castro

Chocado, como todas as pessoas decentes, com o vídeo da reunião ministerial de Jair Bolsonaro no dia 22 de abril? Sim, mas só porque, graças à decisão do ministro Celso de Mello, do STF, ela foi tornada pública. Quem sabe não a teríamos encarado com naturalidade se já tivéssemos assistido às reuniões anteriores de Bolsonaro com seu ministério? Quem garante que não tenham sido o mesmo festival de perversidade, escatologia, baixeza, cinismo e inconstitucionalidade?

Não há motivo para acreditar que fossem diferentes. É o presidente da República quem dita o tom de seus encontros, públicos ou particulares. E, como observamos todo dia, Bolsonaro só se dirige às pessoas em seu estilo equino, de servente de estrebaria — daí sua intimidade com bosta, estrume e outros clássicos de seu vocabulário. Mas a importância de consultar essas reuniões, se elas tiverem sido gravadas, estará em penetrar nos repulsivos intestinos da história recente do Brasil.

Por elas saberíamos quem, quando e como se planejaram, discutiram e executaram os crimes e indignidades que Bolsonaro já praticou. A julgar pela reunião de 22/4, nada coube ao acaso — mesmo as suas medidas mais gratuitas e absurdas visavam a uma estratégia de corrosão das instituições e ocupação de espaço por sua quadrilha.

Pelas gravações ou atas dessas reuniões, saberíamos ainda que ministros ele humilhou diante dos colegas para que pusessem seus planos em ação — não será surpresa se até ministros militares já tiverem sido esbofeteados. E saberíamos também de quem, por convicção ou oportunismo, partiram as ideias em curso para devastar a educação, a saúde, o meio ambiente, a cultura e o respeito aos Poderes.

Os tribunais do futuro precisarão dessas informações para distinguir entre os criminosos e os cúmplices de seu governo — sem esquecer os omissos, escondidos atrás de seus cargos "técnicos" e orelhas murchas. 

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