segunda-feira, 25 de maio de 2020

Bolsonaro está mais para Jânio Quadros do que para Castello Branco




A direita já deu o golpe em 2016, com apoio do comando militar. Alguns perguntam se ocorreria outro golpe militar em 2020 ? As condições políticas para um golpe militar não existem, apesar da vontade de alguns círculos de extrema direita. Vamos comparar 1964 com 2020. 

A primeira questão é o comando militar do golpe. Em 1964 havia um Castello Branco, general de ampla liderança, forte reputação e considerado um "moderado" de direita. Castello Branco era filho de outro general, descendente da nobreza da terra cabocla brasileira mais antiga, um veterano de 1930 e consagrado militarmente na II Guerra Mundial, alguém que apoiara Lott em 1955 e possuía diálogo mais amplo no seu autoritarismo, que dentro do exército era visto apenas como uma breve operação "saneadora" para o retorno à "democracia". 

O movimento de 1º de abril de 1964 só foi vitorioso por causa do vacilo, da fraqueza e fragilidade de João Goulart. Brizola teve a arriscada oportunidade da vida política dele quando poderia ter organizado forte resistência em um governo provisório revolucionário no Rio Grande do Sul, mas não conseguiram e tiveram que fugir para o Uruguai desmoralizados, o que garantiu 20 anos de ditadura. Golpes militares são sucedidos ou fracassam nas primeiras horas, se ocorrer forte resistência, o que não foi o caso. 

Não podemos comparar um Bolsonaro com Castello Branco, que na velha linguagem militar seria "gentalha" desprovida de modos e educação tradicional, nem Heleno, com duvidosas vitórias militares contra favelados haitianos, ambos não chegam perto nem dos coturnos de Castello Branco. 

A segunda questão são os governadores, em 1964 praticamente todos participaram da conspiração e hoje praticamente todos não gostariam de ver uma ditadura militar pessoal da família Bolsonaro, principalmente o "bosta" e o "estrume", Doria e Witzel. Bastaria um governador se colocar contra o golpe militar e mobilizar suas tropas e população para a resistência e o passeio militar da extrema direita ficaria difícil. 

No Congresso o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nascido no exílio, também não apoiaria um golpe militar e a entronização da nova família real bolsonaresca. No legislativo como um todo o bolsonarismo não tem a base hegemônica que o golpe cívico-militar de 64 obteve imediatamente no Congresso em Brasília, naquela outra conjuntura. A rápida queda de popularidade de Bolsonaro de maneira acelerada, a crise do coronavírus aumentando e revelando a incompetência do ministério militar, tudo o coloca em situação difícil e a tentativa de um golpe militar seria uma derrota mais vergonhosa do que a tentativa do golpe de Jânio Quadros em 1961, o golpe sairia pela culatra.

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