sábado, 6 de junho de 2020

O Ministério da Saúde a serviço do mascaramento deliberado da realidade

O governo de criminosos comuns instalado no Planalto vem dobrando suas apostas
Luis Felipe Miguel

Primeiro, Bolsonaro assumiu, em público, que a divulgação dos números da pandemia estava sendo atrasada com o objetivo de impedir que fossem noticiados no Jornal Nacional.

Agora, Carlos Wizard, que vai ocupar uma secretaria no Ministério da Saúde (embora, obviamente, não tenha nenhuma experiência na área), anunciou o plano de rebaixar o número oficial de mortos, que em sua mente ele decidiu que é "fantasioso".

No longínquo ano de 1995 (não existia Covid-19, a internet engatinhava, Bolsonaro era só uma piada de mau gosto), o historiador Robert Proctor pôs em circulação o neologismo "agnotologia": o estudo da propagação da ignorância. É a ciência necessária para entender o governo brasileiro.

Em busca de vantagens de curto prazo, há um esforço colossal para desacreditar dados e promover desinformação.

O combate ao novo coronavírus no Brasil já é um fracasso, devido à pressão permanente contra a adoção das medidas necessárias para evitar a propagação da doença e ao boicote ostensivo do governo federal - por exemplo, reportagem hoje diz que só 10% da verba destinada a ações contra a pandemia foram de fato utilizados.

Com o Ministério da Saúde a serviço do mascaramento deliberado da realidade, como a declaração de Wizard projeta, estaremos simplesmente em voo cego.

O governo de criminosos comuns instalado no Planalto vem dobrando suas apostas.

Bolsonaro demorou para demitir Mandetta, por temer as consequências. Nossos mortos ainda se contavam às dezenas, mas parecia que alinhar o Ministério da Saúde à insanidade da presidência da República era demais, mesmo para o Brasil.

Veio Teich, o apagado, mas Bolsonaro logo estava exigindo dele mais do que o muito que ele já estava disposto a dar.

E agora estamos a pouco dias de completar um mês sem ministro da saúde. Hoje os mortos se contam aos milhares e a curva de propagação da doença no país parece o rastro de um foguete lançado de Cabo Canaveral.

O general que responde "interinamente" pela pasta, que evidentemente não entende nada da área, limita-se a se omitir para a população brasileira e mentir para a Organização Mundial de Saúde.

Com Wizard, então, parece que passaremos da subnotificação, causada por falhas de informação, sobretudo devido à insuficiência de testagem, para a falsificação deliberada dos dados. No sonho de Bolsonaro, a pandemia será vencida ao estilo da ditadura militar que ele tanto exalta: determinando por decreto que ela nunca existiu.

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