sábado, 26 de setembro de 2020

O Covidão 2020 tem que ser cancelado


O Brasileirão deveria ser cancelado

Por questões de saúde pública, o Brasileirão deveria ser cancelado

Martín Fernandes

Por questões de saúde pública, o jogo entre Palmeiras e Flamengo, marcado para amanhã, em São Paulo, deveria ser cancelado. Não adiado, não suspenso, mas cancelado. Assim como todos os demais jogos do Campeonato Brasileiro, assim como o resto da Copa Libertadores, assim como as Eliminatórias para a Copa do Mundo, que ainda não começaram. Se o que realmente importa, como diz o slogan adotado pela Fifa, é “saúde primeiro”, centenas de jogadores não deveriam estar viajando todos os dias pelo Brasil, outras centenas não deveriam estar voando pelo continente e outras centenas não deveriam cruzar oceanos a bordo de aviões para jogar futebol. Mas as prioridades são outras.

Não foram poucas nem curtas as discussões entre dirigentes de futebol para decidir como lidar com a pandemia do coronavírus. O estoque de racionalidade acabou rápido, as contas chegaram, os médicos consultados avaliaram que era possível conter os danos e houve consenso de que era possível voltar. A sociedade topou: Fifa, Conmebol, CBF, clubes, sindicatos, donos de direitos de transmissão, patrocinadores, torcedores, imprensa, as resistências todas caíram. O risco de jogar futebol durante uma pandemia praticamente deixou de pautar o noticiário e o debate, que passaram a se ocupar do de sempre: o que acontece em campo, o mercado de transferências, o vício em demitir treinadores.

É hora de parar? O Flamengo entende que sim, mas só por uma partida, só por este duelo específico contra o Palmeiras, só enquanto seus melhores jogadores estão infectados e, portanto, temporariamente impedidos de atuar. As questões de saúde pública, que o clube brandiu para pedir o adiamento deste jogo, estarão novamente sanadas a partir de segunda-feira. Depois disso o futebol não apenas precisa ser retomado normalmente como deve ter o público de volta aos estádios.

A presença de torcedores nas arquibancadas foi discutida nesta semana por dirigentes da CBF, das federações estaduais e dos clubes da Série A. Num encontro virtual, afinal há uma pandemia em curso que impede 40 cartolas de se reunirem em torno de uma mesa, mas não pode ser obstáculo para 20 mil pessoas se deslocarem até um estádio. O futebol brasileiro produziu ali sua versão da infame reunião ministerial do dia 22 de abril, aquela em que o então ocupante da Educação sugeriu por na cadeia os vagabundos do STF. Nem tanto pela baixaria e pelos palavrões (que também os houve) mas sim pelo show de incoerência e desconexão com a realidade exibida por alguns dos protagonistas.

O presidente do Athletico, Mario Celso Petraglia, bateu boca com o presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, que tirou do sério o presidente da CBF, Rogério Caboclo, que por sua vez se exaltou como raras vezes se viu. Dezenove dos vinte clubes deixaram claro que só topam jogar na presença de torcida quando houver alguma isonomia e isso for autorizado em todas as cidades, cenário inexequível no curto prazo. A exceção foi o Flamengo. Se os rivais não conseguem essa aprovação com seus políticos, problema deles. Questão de saúde pública.

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