Ontem à noite, assisti ao novo documentário da Netflix sobre as mídias sociais. Nada que já não seja bem conhecido, mas é sempre assustador ver como estamos sendo bombardeados por técnicas cada vez mais sofisticadas de manipulação, que nos diminuem como seres humanos e reduzem brutalmente nossa autonomia, ao mesmo tempo em que depreciam a possibilidade do debate público e ampliam a irracionalidade coletiva.
O que o documentário não é capaz de enunciar com todas as letras, mas que lampeja aqui e ali nas falas dos entrevistados, é que na raiz do problema está o capitalismo. Como deixar uma tecnologia com tanto potencial para moldar comportamentos nas mãos de quem mede tudo pelo lucro?
É difícil terminar o documentário sem desânimo. Os entrevistados baseiam suas esperanças na “pressão dos usuários” (como, se são eles os manipulados?) e na regulação estatal (que é ativamente impedida pela pressão de corporações cujo poder está tão grande que é cada vez mais difícil enfrentá-lo). Enquanto isso, vamos regredindo rapidamente em questões tão vitais quanto proteção ambiental e direitos humanos.
E nem conseguimos colocar os debates mais importantes no centro da mesa, porque gastamos nossa energia lutando contra as fake news mais absurdas e as teorias mais despropositadas, da terra plana ao neostalinismo.
E, por coincidência, hoje de manhã, o Facebook me brinda com sua nova interface, sem possibilidade de voltar à antiga. Fico pensando o que estou fazendo aqui.
Facebook é praticamente a única mídia social que uso. Abandonei o Twitter, depois de uma curta e desprazerosa experiência, e nunca nem entrei nas outras. Tenho zap, como todo mundo, mas odeio e faço questão de usar de forma displicente. É raro assistir a um vídeo no Youtube. E é isso.
Reconheço que no Facebook fiz contato com várias pessoas bacanas e tive acesso a reflexões instigantes. Mas também perdi meu tempo acompanhando tretas inúteis, me decepcionando com debates agressivos e desinformados, recebendo informação duvidosa e sabendo de fofocas que não me interessam.
Sou até disciplinado, mas o fato é que isso aqui é um sumidouro de tempo. De meme em meme, de foto de gatinho em foto de gatinho, as horas vão passando – um tempo que eu podia estar usando para trabalhar, para descansar ou para me distrair. Porque Facebook não traz descanso nem distração: leva a uma forma exaustiva de letargia mental.
O valor dele para mim, para ler e para escrever, é o tão malfalado textão, aquele em que argumentos podem ser desenvolvidos e a discussão, minimamente aprofundada. É o diferencial que vejo no Facebook em relação a seus concorrentes. Pois é o textão que a nova interface parece sabotar, tornando a visualização mais difícil.
Pode ser que depois a gente se acostume – afinal, temos nos acostumado com tanta coisa no mundo, não é mesmo? Por enquanto, estou pensando em alternativas: voltar a priorizar a escrita para portais e blogs, em vez de esperar que eles reproduzam o que publico aqui. E, inversamente, voltar a frequentá-los – tem tanto site legal, com conteúdo bacana, na internet – em vez de esperar que o algoritmo me sugira a leitura.
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