Por Bernardo Mello Franco
Os americanos gostam de dar lições de democracia, mas não têm muito a ensinar sobre eleições. Mais uma vez, a corrida à Casa Branca terminou em tumulto. Ontem à noite, ainda não era possível cravar quem venceu a disputa presidencial.
Parte dos problemas decorre de um sistema arcaico. Os Estados Unidos resistem a abandonar o voto indireto, que distorce a vontade dos cidadãos. Quem recebe mais votos nem sempre leva a Presidência. Na matemática do colégio eleitoral, um morador do Wyoming vale por três da Califórnia.
A apuração dos votos também deixa a desejar. No país mais rico do mundo, muitos estados ainda usam cédulas de papel. Em 2000, a eleição empacou por falhas na contagem de cartões perfurados. Agora o problema é a demora para contabilizar os votos enviados por correio.
Na disputa deste ano, surgiu um novo e poderoso fator de incerteza. Mau perdedor, Donald Trump quer garantir sua reeleição no grito. Ele cantou vitória antes da hora e disse, sem qualquer prova, que haveria fraude para prejudicá-lo. Um factoide para tumultuar o processo e desacreditar os números oficiais.
O circo armado pelo republicano igualou os EUA a uma república bananeira. Se um líder latino-americano fizesse algo parecido, seria chamado de golpista e candidato a ditador. As ameaças de Trump não despertam a mesma indignação de entidades que dizem zelar pela democracia, como a OEA.
Vista do Brasil, a a confusão americana sempre causa espanto. Aqui a votação é eletrônica e os resultados são divulgados em poucas horas. Na noite da eleição, o país já sabe quem o governará pelos próximos quatro anos. Isso não significa, no entanto, que a nossa democracia seja muito melhor que a deles.
Enquanto os americanos contavam seus votos, o MP informou que Flávio Bolsonaro finalmente foi denunciado no caso da rachadinha. Acusado de embolsar dinheiro público, o senador passou o feriado em Fernando de Noronha com passagens pagas pelo Senado. Nos EUA, ele já teria perdido o mandato e trocado o paletó por um uniforme laranja.
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