quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Desmoralização


Claudio Guedes

Não precisava de mais este ato.

Para qualquer observador minimamente atento, e com um pouquinho de inteligência, a encenação montada pelo TRF-4 para justificar a condenação no "julgamento" dos recursos do ex-presidente Lula (um espetáculo deprimente da justiça) seria suficiente para escancarar um sistema de justiça que não se dá o devido respeito.

O que pode ser mais desmoralizante que assistirmos, numa ação do estado x um cidadão, prazos serem acelerados para prejudicar o réu, votos combinados para diminuir as suas chances de recursos, uma opulência de auto-elogios aos próprios pares e ao juízo de 1° Instância e, por último e mais importante, o descaso quanto à apresentação de um conteúdo probatório mínimo que justificasse a condenação do réu.

Poderia existir algo ainda mais desmoralizante?

Sim.

É o Brasil, versão 2018. O fundo do poço é inalcançável.

Na montagem das farsas sequer há agora a preocupação com as aparências, como se o uso do imenso arsenal coercitivo da justiça para perseguir desafetos políticos e ideológicos fosse algo normal, algo socialmente aceitável.

Palocci, o ex-ministro de governos do PT que revelou-se um corrupto, que demonstrou gostar mais de dinheiro do que de política, e que encenou as mais patéticas e vergonhosas cenas do já desmoralizado instituto de "delação premiada", acaba de ser devidamente agraciado.

Destruíram o cidadão (o cometimento de um crime, a investigação, o julgamento e a punição não retira de ninguém a sua condição de cidadania). O transformaram num delator lacaio, com a condição que da sua boca saíssem acusações aos ex-presidentes da República Lula e Dilma.

O prêmio? A sua liberdade.

Saíram as acusações: nenhuma prova, nenhuma evidência com alguma razoabilidade. Nada. Torpeza, simples ação vil. Ápice do ridículo, do teatral, da vulgaridade na armação: Palocci afirmando que o ex-presidente Lula e o maior acionista do Grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht, fizeram um pacto de sangue. Dizem que os italianos mafiosos o fazem, mas os que armaram o circo se esqueceram que Lula é nordestino e Emílio Odebrecht também - é baiano, descendente de prussianos. O "italiano" era o delator. Nem de roteiro são competentes.

Mas ele, Palocci, o patético trapo humano, será premiado.

O premiado e os que o premiaram se merecem. Compuseram uma das mais grotescas páginas da história da justiça (sic) no país.

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