quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Eis o lagartão

Luzia Amélia Jakomeit

A GARGALHADA DO LAGARTO

"Cuba, Venezuela, Jerusalém/Cuba, Venezuela, Jerusalém/Cuba, Venezuela, Jerusalém". O mantra vem se repetindo à exaustão.

Observem a foto. Examinem detalhadamente as expressões faciais de cada personagem.

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O personagem de gravata azul abre um sorriso com traços das pessoas que sofrem uma doença chamada idiotia. E talvez por abominar a cor vermelha, escolheu uma gravata com listas azuis. Paletó escuro para demonstrar seriedade. Alguém do cerimonial devia ter avisado o anfitrião que a cor do partido de seu convidado é vermelha e não azul. E até por isso, o convidado enverga com orgulho as cores do seu partido.

O anfitrião está se esbaldando de rir.

Agora observem o testemunha da tão patética cena. Provavelmente um diplomata que acabou de traduzir o motivo da gargalhada. Ele olha atentamente para o convidado esperando um sorriso ou mesmo um esgar. E nada. O convidado mantem sua postura carrancuda e imutável, seja qual for a ocasião.

Chegamos ao convidado. Paletó cinza-claro, como deve ser o traje para reuniões semi-formais, principalmente num país que está entrando no verão, camisa combinando com a cor do paletó e gravata de listas vermelhas, a cor do Partido Republicano de seu país. Austero, sua expressão mostra apenas uma testa franzida. E nada mais. Ele está sentado à esquerda do anfitrião, outra gafe do cerimonial. Afinal de contas quando se quer demonstrar respeito por alguém a quem convidamos a compartilhar nossa mesa a pessoa senta-se do lado direito.

Minutos antes, o homem da gravata azul, um tipo que lembra aqueles lagartos enormes que habitaram a Terra nos tempos históricos, bateu continência para o homem de gravata vermelha. E foi retribuído pela famosa frase bíblica "Ecce Homo", "esse é o homem" ou "esse é o cara". A frase original é de Pôncio Pilatos quando viu Cristo, com sangue escorrendo pelo rosto, coroa de espinhos na cabeça a caminho do Calvário. Pilatos queria ter certeza da identidade e então, num Latim correto, exclamou, "Ecce Homo". Seria uma frase elogiosa se não fosse apenas um plágio da frase do ex-presidente do seu país quando se encontrou com o então presidente do Brasil, Lula da Silva.

E o homem de gravata azul, o lagartão pré-histórico repetindo, "Cuba, Venezuela, Jerusalém/Cuba, Venezuela, Jerusalém", ladainha que o convidado até queria ouvir, mas esperava muito mais porque além de Cuba, Venezuela, Jerusalém, o homem da gravata vermelha está preocupado mesmo é com o avanço de seu arqui e imbatível inimigo chamado China que, no momento já se instalou em Cuba, Nicarágua e avança para a Venezuela.

O Lagartão não lê e não sabe disso.

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