quinta-feira, 22 de novembro de 2018

O Brasil já é um Estado fracassado, província petrolífera e financeira dos EUA

Brazil, 2019: Anno Domini

Fábio de Oliveira Ribeiro

O que caracteriza um Estado fracassado? A inexistência de instituições capazes de cumprir e fazer cumprir a legislação. A ausência de recursos fiscais para atender as necessidades básicas da população de cuja reprodução depende a própria existência do Estado. A dependência de uma nação estrangeira em razão da impotência militar. A autonomia política inexistente e/ou limitada por agentes externos.

A nação brasileira que emergiu das urnas em 2018 preenche todos ou quase todos esses requisitos. 

Antes mesmo de ser eleito, Bolsonaro conseguiu expulsar os médicos cubanos deixando centenas de municípios em situação de calamidade pública. Ele prometeu reduzir ainda mais os investimentos em educação. Os direitos previdenciários da população brasileira serão reduzidos e/ou extintos. De 2019 em diante quase toda arrecadação tributária brasileira será usada para pagar juros aos bancos. O que restar irá custear as regalias crescentes e imorais das autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário.

O Brasil claramente renunciou à sua formular e implementar uma política externa independente. O Ministro das Relações Exteriores (e Extraterrestes) nomeado pelo capitão fanfarrão já anunciou que adotará a máxima de Roberto Campos “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.

Não por acaso as autoridades norte-americanos já ousam até mesmo exigir publicamente que sua nova província se afaste da China e imponha sanções à Venezuela. Ao invés de estruturar a política externa do Brasil levando em conta nossas necessidades, o Itamaraty se limitará a agir como um órgão subalterno do Departamento de Estado norte-americano. O governo Bolsonaro se limitará a aplicar no Brasil a política externa definida para o país pela metrópole.

De potência militar regional o Brasil foi rebaixado a província petrolífera e financeira norte-americana.  O novo comandante do Exército é um general que completou sua formação nos EUA. Em alguns meses a missão das Forças Armadas não será mais defender a soberania do Brasil e sim garantir o predomínio dos interesses norte-americanos dentro do país.

A doutrina da segurança nacional voltará a se tornar uma realidade. Os defensores da independência nacional, da soberania política e dos interesses genuinamente brasileiros passarão a ser identificados como inimigos internos irredutíveis que podem e/ou devem ser exterminados. Um conflito entre essa a “tropa local de ocupação territorial” e a população nativa que rejeitar as políticas neoliberais de Bolsonaro será inevitável.

O golpe de 2016 “com o Supremo com tudo” foi engendrado na Embaixada dos EUA. É fato: o vice-presidente Michel Temer agiu como informante gringo dentro do governo e se reuniu várias vezes com autoridades norte-americanos dentro da Embaixada dos EUA para definir as novas prioridades do país depois que ele conseguisse derrubar Dilma Rousseff.

A inexplicável complacência do STF em face dos abusos mais do que evidentes cometidos por Sérgio Moro (sobre esse assunto vide https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/vidas-paralelas-sergio-moro-e-cabo-bruno) se tornaram evidentes quando Lula foi gravado dizendo a Dilma Rousseff que os Ministros daquele Tribunal estavam acoelhados*. Tudo o que ocorreu desde então (a consumação da fraude do impedimento, o processo fraudulento do Triplex, a prisão de Lula antes do trânsito em julgado da condenação injusta, etc...) sugerem que o nosso país já perdeu total ou parcialmente o poder de aplicar sua legislação dentro do território da nova província petrolífera e financeira dos EUA.

Apesar de uma decisão válida e eficaz da Comissão de Direitos Humanos da ONU, Lula foi impedido de ser candidato a mando de um juiz de primeira instância formado nos EUA. Sérgio Moro fez acordos internacionais com os norte-americanos sem autorização do Itamaraty. Nomeado Ministro da Justiça por Jair Bolsonaro ele poderá, enfim, realizar seu sonho de submeter a legislação e o sistema de justiça do Brasil à legislação e ao sistema de justiça da metrópole.

A ausência de eficácia da legislação brasileira no Brasil e a predominância do sistema de justiça dos EUA dentro do país já haviam se tornado uma realidade. Isso ocorreu quando o Itamaraty deixou de defender os interesses da Petrobras nos EUA. O próprio MPF sacrificou os interesses nacionais ao prejudicar deliberadamente a indústria naval e os exportadores de carne.

Nossas instituições estão funcionando... proclamou a ex-presidente do STF. É verdade, mas elas já funcionam de maneira subordinada. Em 1822 o Brasil proclamou sua independência. Desde 2016 ele tem proclamado cada vez mais sua condição de província petrolífera e financeira dos EUA. Os efeitos extraterritoriais da legislação norte-americana dentro do Brasil provam que na prática nosso país foi juridicamente anexado e submetido ao império gringo (ou melhor, ao império Klingon).

O Brasil já é um Estado fracassado. As autoridades obviamente nunca vão admitir isso. Elas continuarão agindo como se nada tivesse ocorrido, pois nenhum Senador, Deputado, Presidente ou Ministro de Tribunal pode, sem perder a dignidade de seu cargo, admitir que foi rebaixado à condição de ventríloquos tupiniquins dos verdadeiros soberanos estrangeiros do país.   

A verdade nos libertará. Já que vivemos num Estado fracassado que aceitou ser anexado pelo império Klingon, devemos proclamar em alto e bom som que não precisamos mais de intermediários. Para felicidade geral da colônia, Donald Trump deve cassar o mandato de Jair Bolsonaro e nomear um procônsul norte-americano com poderes plenipotenciários no Brasil.

Quando chegar ao Brasil, o novo governante da província será recebido com honras e salamaleques pelos leais serviçais dos três poderes subalternos que a comandaram provisoriamente. E então nós poderemos ser felizes para sempre à media que a “tropa local de ocupação territorial” expandir a paz dos cemitérios em todos os redutos em que a autonomia política e a soberania territorial brasileira forem proclamadas. Os que aceitarem se tornar cidadãos de segunda classe residentes na colônia poderão enfim realizar seu sonho de receber um legítimo passaporte norte-americano com uma observação: Valid only in Brazil.

* acovardados

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