JESUS É DE DIREITA
Há um esforço conceitual entre progressistas religiosos, de longa data, de inserir no cristianismo certo viés revolucionário em contraposição ao que ele – e qualquer outra religião – sempre foi: uma seita conservadora e reacionária, montada dentro de uma estrutura hierárquica de poder, quase sempre, autocrático.
Jesus Cristo, tivesse sido esse suave revolucionário das classes oprimidas pelo Império Romano, não preconizaria dar nada a César, mas dele tomar tudo, em nome dos homens e mulheres escravizados na Galileia pela máquina de guerra romana. Para tal, teria que ter transformado água em nitroglicerina, não em vinho. E feito a multiplicação das espadas, não de peixes.
A verdade que a idealização de um Cristo revolucionário, como fez Hugo Chávez, na Venezuela, foi uma saída buscada, sobretudo nas esquerdas italiana e latinoamericana, de não confrontar os ideais socialistas com a cultura da fé cristã. Uma fuga, portanto, do comunismo ateu e do materialismo dialético, frutos do pensamento marxista.
A evolução da ética protestante como conceito nada mais é o do que a adaptação das regras do protestantismo ao lucro, melhor dizendo, ao vale tudo pelo lucro dentro das sociedades capitalistas. Não por acaso, os Estados Unidos tornaram-se, antes de tudo, uma poderosa nação fundamentalista cristã, em direção à qual se ajoelham, hoje, todos os projetos de ditadores de extrema-direita, de Jair Bolsonaro, batizado nas águas do rio Jordão, à senadora golpista Jeanine Añez, autoproclamada presidenta da Bolívia, com uma bíblia na mão.
Também não por acaso, o crescimento da extrema direita, na América Latina, deslocou-se dos quartéis para os templos neopentecostais, onde a pobreza, a ignorância e o fanatismo religioso se tornaram um campo fértil para a manipulação política de massas.
Por meio de interpretações enviesadas de escrituras ditas sagradas e de extorsão pura e simples de um lumpesinato entregue à própria sorte, as gangues evangélicas atrelaram a narrativa cristã às necessidades da classe dominante.
De certa forma, potencializaram a tradição, outrora de exclusividade católica, de que o ato cristão é a caridade, não a igualdade social – esta, um pecado de comunistas ateus.
Jesus, que alegadamente andou sobre as águas, poderia tê-las feito desabar sobre a cabeça dos opressores romanos, mas preferiu oferecer a outra face.
Enquanto as esquerdas forem condescendentes com a religião, interditadas pelo discurso de que questioná-la seria uma inaceitável falta de respeito, César continuará com o que é de César.
Ou seja, tudo.
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