sexta-feira, 1 de novembro de 2019
Pequena fábula miliciana
Mauro Beting
- Senhor meu pai, cansei de brigar de polícia e comunista como você me ensinou...
- Tá ok, meu filho. Sentido! Também tô cansado de atirar em vagabundo. Já que você não quer atirar em índios brincando de bangue-bangue, vou contar uma história pra você muito bonita. É de um livro de um grande amigo meu. Brilhante Ustra!
- Puxa pai, você já contou essa história milhões de vezes...
- Mas precisa sempre falar a verdade, filho!
- Pai, eu prefiro que você me conte histórias de outros animais. Ostra o pessoal fala que é meio burra.
- Não admito que você fale assim do seu irmão! QI de Ostra é uma coisa. Ustra é outra. Ostra. Quer dizer, precisa ver isso aí!
- Pai, eu gosto daquela história do leão e das hienas.
- Sim, filho. O leão é o rei dos animais. Ele tem que proteger o leãozinho dele!
- Tem aquela música que eu gosto. “Gosto muito de te ver, Leãozinho...”
- Não, filho. Essa é subversiva. Foi feita pelo Teodoro Adorno no Foro de São Paulo com um grupo de bolivarianos comunistas patifes que aprenderam a tocar violão em Havana! Velhacos!
- Isso!!! Conta a história do Velho da Havan!
- Não sei contar direito. O MC Reaça vai cantar melhor. Esse é o verdadeiro artista brasileiro. Um verdadeiro pai de família. Um homem de bem sem viés ideológico.
- Então conta a história do AI-5 que você adora lembrar, pai.
- Tá bom, filho. Era uma vez numa terra lá longe um país ideal. Sem liberdade. Com censura. Sem imprensa livre. Sem tribunal enchendo o saco. Com muita gente presa. Os militares no poder. Sem filmes, músicas e livros subversivos. Só com os deputados que a gente quisesse.
- Puxa, pai, que legal. Mas esse país era de mentirinha, né?
- Não, filho. Era um sonho. E qual o seu sonho?
- Ser deputado...
- Mas filho, não dá pra ser deputado desse jeito aí.
- Puxa, pai... Alguma resposta a gente precisa dar, né?
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