domingo, 17 de novembro de 2019

Todo fascismo emana do povo



Desde o final do ano passado quando a COAF descobriu a relação intestina da família Bolsonaro com a milícia de Rio das Pedras/ Queiroz/ Cabo Adriano e os assassinos da Marielle, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, as hostes bolsonaristas passaram a atacar a Marielle da forma mais vil possível.

Numa das "piadinhas" contra a Marielle difundidas por eles, (inclusive propagada nas redes sociais de um deputado catarinense do PSL), era que "mesmo depois de morta a Marielle enche o saco".

É o mesmo pessoal que torce pelos heróis nos filmes. Mas é tão idiota na vida real, que não consegue entender a relação de nada com porra nenhuma, e acaba torcendo pelos vilões do seu cotidiano. É o cara que chora assistindo "Patch Adams, o amor é contagioso", mas quando desliga a TV, ele acha que o Patch Adams da vida dele é o Bolsonaro, e o assassino do filme é o Paulo Freire. Contagioso nessa gente é só a burrice, que por sinal é autoimune.

E não adianta simplesmente não ler os comentários. Os comentadores de internet são pessoas que estão aí, do seu lado no dia a dia. São os cristãos idiotas que foram pra frente das embaixadas de México e Cuba hoje achando que estavam lutando contra o "mal", contra o "capeta".

Em relação aos piadeiros da morte da Marielle eu só consigo pensar que a morte é uma alteridade absoluta, vai chegar para todo mundo, o que se questiona são as suas formas. Morrer não é vergonhoso, não é feio e nem sinal de fraqueza.

Agora, existe uma coisa muito pior que a morte. É viver, ter que acordar todos os dias, olhar no espelho e ali, fora das redes sociais, longe dos perfis fakes e da segurança que a tela de um celular dá, ver quem se é.

E é melhor morrer do que ser essa galera feia e cafona.

Eu não acredito no povo brasileiro. Eu não admiro o povo brasileiro. E eu acho que todo fascismo emana do povo, e não poder. A cada dia que passa eu me torno mais misantropo, e é por isso também que todos sempre me veem com fones de ouvido na rua. Eu não tenho saco para ouvir a ladainha dos populares, seja no trem, no ponto de ônibus e etc.

Eu não gosto das piadas que o povo conta, eu não gosto da alegria artificial do povão. Eu não gosto das músicas que o povo ouve. Eu tenho vergonha da sabedoria popular. Essa coisa repulsiva que é botar pó de café e mandar cachorro lamber ferida pra cicatrizar machucado. De botar bombril na ponta da antena. De fazer gatonet. De ficar mergulhando no Buraco do Lacerda quando tem enchente no Rio, enfim...nada disso é bonito. Essa coisa de todo mundo com a cara grudada na frente do Whatsapp ou de uma novela. Esse excesso de religiosidade tacanho. Eu morro de vergonha dos vídeos do Aniversário do Guanabara e das confusões no BRT do Rio de Janeiro, que muitos amigos meus PASSAM MAL de rir.

É desagradável e esfrega nas nossas caras o nosso subdesenvolvimento e a nossa pobreza de alma.

Eu tenho asco da classe-média brasileira, acredito que a elite brasileira é a mais pérfida do mundo. Eu tenho vergonha de ver brasileiro andando com camisa verde e amarela no exterior, porque o brasileiro é sempre o turista que VAI FAZER ALGUMA PRESEPADA. Eu torço contra as seleções de vôlei e contra os atletas brasileiros de UFC, para todo o sempre / eu detesto aquele música "eu sou brasileirooooo com muito orgulhooooo, com muito amoooor". Essa música é o capeta chegando de boné pra trás.

Eu acho balde de combo na quintaneja a coisa mais deplorável do universo.

Muito talvez porque isso tudo pra mim é A CARA DO BOLSONARO e do bolsonarismo. E isso é a cara de brasileiro mediano, pobre, rico ou classe-média que fermenta o caldo cultural desse país triste e decadente.

Apesar de ser lulista, eu, na verdade, sou o anti-lula. E deve ser por isso que talvez eu o admire tanto. Afinal, como ele consegue?

Já gostei, já admirei esse país. Mas uma coisa é você ter admiração pelo Brasil do João Cândido, do Silas de Oliveira, do Lula, do Cartola, do Miguel Arraes, da Jovelina Pérola Negra, da Beth Carvalho e etc, outra coisa é nutrir sentimento respeito por essa brasilidade falsa, forçada e infantil, desse milk shake cultural de merda que virou esse país.

Pois bem, voltando ao início do texto. O povo fazia piada com a morte da Marielle dizendo que ela "enchia o saco até depois de morta". Pois é, bozomínios, depois do Bolsonaro ser pego na mentira dizendo que estava em Brasília no dia da execução da Marielle e que não falou com porteiro nenhum, descobre-se hoje que Bolsonaro tinha passagens emitidas entre Brasília e Rio e alegou "intoxicação alimentar" para tal.

Pelo visto, ela não apenas "vai continuar enchendo o saco", como é essa "chata" aí que VAI DERRUBAR E QUEM SABE ATÉ ENJAULAR ESSA FAMÍLIA BOLSONARO MALDITA INTEIRA, só é uma pena que não tenha cadeia também para seus 57 milhões de asseclas.

E qual o interesse da família dele na morte da Marielle? Ora, ela sabia de todo o seu envolvimento intestinal com a milícia e poderia foder a candidatura de todos. Por isso o silêncio seguido de chilique na frente de jornalistas do Bolsonaro quando ela morreu?

A questão é que, por mais merda que esse lixo humano faça, ele segue com 30% de apoio concreto e rígido de uma parte da sociedade. É a parte mais perigosa. E, pelo que estamos vendo, é a parte da população que vai bastar ele estalar os dedos para que eles comecem a linchar vizinhos, parentes, colegas de trabalho e etc.

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