Presidente age como estivesse em um ringue contra supostos inimigos em rounds imaginários
“Chega da velha política”, disse Jair Bolsonaro na caçamba de uma caminhonete a um grupelho aglomerado em um ato anti-isolamento e pró-intervenção militar.
A frase partiu do presidente que nos últimos dias acenou ao centrão, bloco dos partidos apetitosos por cargos e verbas federais.
“É agora o povo no poder. Todos têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro”, ele afirmou neste domingo (19).
Um sinal da vontade das ruas está no mais recente Datafolha. Segundo a pesquisa, 79% dos brasileiros defendem punição a quem viole as regras de cumprimento da quarentena no combate ao coronavírus.
Por duas vezes no fim de semana, Bolsonaro, do grupo da faixa etária de risco, saiu sem máscara, aglomerou pessoas desprotegidas e discursou e tossiu cercado de seguranças.
O povo citado pelo presidente é o mesmo que, além de votar nele em 2018, escolheu também os 513 deputados e dois terços dos senadores.
Portanto tão legítima quanto a eleição à Presidência foi a votação para a composição do Congresso.
O mesmo Congresso que, por meio do Senado, sabatina e aprova os indicados pelo Executivo para o STF.
Os três Poderes atuam em harmonia, com freios e contrapesos. Ou Bolsonaro não compreende ou, propositalmente, tenta bagunçar o tabuleiro da mesma forma que faz na relação com os governadores.
Ele age como estivesse em um ringue contra supostos inimigos que se revezam em rounds imaginários.
Quando um sai de cena, outro é escalado para o embate. Foi assim com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, logo após a demissão de Luiz Henrique Mandetta (Saúde).
Há quem aposte que, devido às capacidades limitadas do chefe da República, essa não é uma tática de poder elaborada pelo presidente.
A pandemia do coronavírus, no entanto, reforça a tese de que, sim, Bolsonaro, um sujeito primitivo na condução do país, estabeleceu a paranoia como uma diretriz de governo. E assim será até o fim dele
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