Bolsonaro afastou todos os auxiliares que ousaram questionar seus desmandos. Sobraram os lunáticos, os oportunistas e os generais que aceitaram o papel de cúmplices
O slogan “Brasil acima de tudo” está prestes a ganhar novo significado. Desgovernado pelo bolsonarismo, o país marcha para o topo do ranking de mortes diárias pelo coronavírus. Ultrapassar os Estados Unidos virou questão de semanas, prevê o médico Drauzio Varella. “O Brasil vai ser o epicentro da epidemia mundial”, ele resumiu, em debate promovido na quinta-feira pela Oxfam.
Em tempos normais, o país já estaria condenado a uma crise humanitária. O vírus cobraria a conta histórica da desigualdade e da falta de investimentos em saúde e moradia popular. O negacionismo do capitão elevou o patamar da tragédia. Ele desprezou a ciência e torpedeou as medidas de distanciamento, necessárias para frear a contaminação.
O Brasil é o único país do mundo que descartou dois ministros da Saúde em plena pandemia. O primeiro foi chutado porque resistiu às ordens para sabotar governadores e iludir doentes com um remédio milagroso. O segundo entregou o cargo pelas mesmas razões.
Nelson Teich assumiu com a promessa de “alinhamento completo” a Bolsonaro. Precisou de 28 dias para desistir do papel de fantoche. Indicado por um empreiteiro amigo, ele se limitava a assinar papéis num ministério loteado entre militares. Em sua breve gestão, o número oficial de mortes saltou de 1.924 para 14.817.
O oncologista desperdiçou a última chance de prestar um serviço público ao sair sem denunciar o que viu. Sua queda mostra que não há limites para o mandonismo e a insensatez no sanatório do Dr. Jair.
Em 500 dias no Planalto, Bolsonaro afastou todos os auxiliares que ousaram questioná-lo. Sobraram os lunáticos, os oportunistas e os generais que toparam o papel de cúmplices. Eles colaram a imagem das Forças Armadas a um presidente que põe o próprio povo em risco e usa o poder para proteger os filhos da polícia.
Na sexta, horas depois da saída de Teich, um quarteto de ministros foi à TV para defender o chefe. O general Luiz Eduardo Ramos acusou a imprensa de instalar um “clima de terror”. Ele entrou na escola de cadetes em 1973, quando a ditadura censurava notícias sobre uma epidemia de meningite. Mais ousado, o general Braga Netto culpou o jornalismo por casos de depressão e violência doméstica na quarentena. Faltou pouco para sugerir que as emissoras deixem de cobrir a pandemia para exibir paradas militares.
Damares Alves, a pastora que dá tom de chanchada ao desgoverno, citou estudos inexistentes para sustentar que “a cloroquina faz bem”. Paulo Guedes, o economista do bolsonarismo, discursou em defesa do “direito de ser infectado”. Deixou de dizer que o egoísmo pode tirar o leito hospitalar de quem respeita o isolamento.
Guedes não se cansa de naturalizar o autoritarismo e repetir a propaganda enganosa do capitão. Na sexta, ele descreveu Bolsonaro como “um democrata” que “não concorda com a velha política” e combate o “aparelhamento”. No mesmo dia, o Dr. Jair reconduziu Carlos Marun, fiel escudeiro de Eduardo Cunha, ao conselho de Itaipu. O ex-deputado continuará a embolsar R$ 27 mil por mês com a sinecura. O dinheiro poderia sustentar 45 famílias com o auxílio emergencial de R$ 600.
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