Mesmo no campo progressista, não falta quem se entusiasme com o "neoliberalismo com face humana" de uma Luiza Trajano.
Depois de ter sido feroz defensora do fim dos direitos trabalhistas (lembro da famosa entrevista em que ela descreveu a impopularidade de Temer como uma "oportunidade" para liquidar a CLT), a bilionária continua ativa em prol da destruição do Estado.
Por convicção ou por cálculo, provavelmente por um mix de ambos, Trajano tornou-se um ícone do "empoderamento" feminino e, agora, da igualdade racial. Mas sempre na chave individualista e de acomodação sem tensões com a racionalidade capitalista, própria daquilo que Nancy Fraser chamou de "neoliberalismo progressista".
Abrir a possibilidade de ascensão profissional para integrantes de grupos subalternos é importante. Mas não dá para esquecer que mulheres e negras/os estão entre os mais prejudicados pelo fim dos direitos e pelo desmonte do Estado.
A desvinculação entre as lutas emancipatórias de diferentes grupos e um projeto de transformação radical da sociedade é a armadilha própria do "identitarismo". Criticá-lo não é criticar as agendas voltadas à igualdade de gênero ou racial, mas sim o enquadramento individualista e pró-capitalista dado a elas.
Nessa armadilha está condenada a cair uma esquerda que perdeu a classe.
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